terça-feira, 6 de agosto de 2013

A genialidade de John Lennon como desenhista

 Capa de uma edição do Daily Howl
Antes mesmo de se interessar pela música, John Lennon descobriu outra paixão: o desenho. Depois que Julia entregou seu filho aos cuidados da irmã mais velha, Mimi, a vida de John entrou em uma nova fase, com muitas regras, castigos e o contato com a leitura e a alfabetização. Logo que Lennon foi “adotado” por sua tia Mimi, ela o inscreveu na Escola Primária Dovedale, onde aprendeu a ler rapidamente. Tio George, marido de Mimi, se tornaria um verdadeiro pai para John, que desafiava a autoridade militar da esposa ao contrabandear doces ilegais depois que as luzes da casa se apagavam e ajudava o sobrinho a soletrar palavras do Liverpool Echo.
Logo que se mudou para a casa dos Smith, John começou a implorar que lhe comprassem lápis, caixas de tinta e papel ao invés de brinquedos. Ao passo que seus pedidos foram atendidos, ele passava horas do dia absorto nos mundos que criava com seus desenhos. Em Dovedale, ganhou vários prêmios de arte, incluindo um livro intitulado “Como desenhar cavalos”, que ele guardaria como troféu por muitos anos. Seu critério de escolha de temas costumava surpreender e, às vezes, escandalizar qualquer adulto ou professor acostumados com ilustrações infantis como gatos, casas ou “minha família”. Um exemplo notável foi uma pintura que fez de Jesus Cristo – uma figura de cabelos compridos e barbada, quase prevendo sua imagem vinte anos depois. Porém, a especialidade genuína de John eram as caricaturas dos colegas e professores, louca e estranhamente distorcidos e, no entanto, absolutamente reconhecíveis, provocando imediatamente as gargalhadas de suas pobres vítimas, tanto crianças como adultos.
Dois artistas cômicos, um britânico e um americano, teriam profunda influência sobre o estilo de John. Ele adorava a técnica intricada e rabiscada dos traços de Ronald Searle, cujas sádicas alunas de St. Trinian (St Trinian’s School, o cartoon mais famoso de Searle) eram baseadas nos guardas que ele conhecera como prisioneiro de guerra dos japoneses na Birmânia. E, graças a Mimi, tornou-se um devoto de James Thurber, cujos textos para a revista The New Yorker e cartoons de traços vacilantes e surrealistas eram conseqüência da acentuada cegueira de Thurber. Mais tarde, John admitiria que começara a “thurberizar” seus desenhos a partir dos quinze anos de idade.
 Caricatura de Pete Shotton (esquerda) e auto-retrato (direita) no caderno de exercícios de John
John mantinha um caderno de exercícios especialmente para suas caricaturas de professores e colegas, organizado meticulosamente, como ele raramente fazia. Pete Shotton (“Um Simples Peters Cabeludo”), seu fiel amigo, era um frequente habitante do caderno de John, inequívoco com seus cachos pálidos e rosto rosado, sacudindo um chocalho de bebê ou espiando de dentro de uma lata de lixo. Havia até um auto-retrato, usando seus odiados óculos do Plano Nacional de Saúde e com a legenda auto-depreciativa de “Simply a Simple Pimple Shortsighted John Wimple Lennon”, algo como “Simplesmente um Simples Espinhento e Míope John Wimple Lennon”. “Wimple”, o trocadilho com “Winston”, era o nome de um personagem de um dos programas de rádio favoritos de John, Life with The Lyons.
O livro de caricaturas circulava pelos colegas de John sempre que era atualizado com um novo desenho. Certa vez, Harry Gooseman recebeu até mesmo autorização para levá-lo para casa uma noite e mostrá-lo à família. Até mesmo os professores de Quarry Bank, como ninguém imaginava, acabavam rindo com a mesma intensidade dos alunos quando topavam, por acaso ou não, com as caricaturas. Num período letivo de verão, durante os preparativos para a festa campestre da escola para angariar fundos, John propôs, meio na brincadeira, decorar quadrados de cartolina com caricaturas dos professores e depois pendurá-los para que as pessoas jogassem dardos sobre eles – para seu espanto e de todos os seus amigos que faziam parte do grupo que tinha acesso fácil às caricaturas de John, a idéia foi aceita pela direção. O jogo atraiu uma grande multidão e Shennon e Lotton (conheça as aventuras de Shennon e Lotton) foram depois condecorados por terem levantado mais dinheiro do que qualquer outra barraca, apesar de terem desviado dezesseis libras para si mesmos.
 Caricaturas de professores no caderno de exercícios
Não demorou muito para John criar seu próprio jornal em miniatura escrito e ilustrado inteiramente por ele próprio, intitulado The Daily Howl (“O Uivo Diário”). O jornal consistia de parágrafos em estilo de mexericos, cartoons isolados e em tiras, escritos à mão, com traços de régua e coloridos com todo o empenho. Haviam piadas sobre celebridades como Fred Emney, Stanley Unwin e o mágico careca da TV David Nixon. Sobre o próprio nome do meio de John, Winston; e, como sempre, sobre negros e aleijados, algumas frases sendo fonetizadas (“thik ik unk”, por exemplo, significava “this is a”) para representar um impedimento de fala. Apesar do intenso trabalho que dava criar uma edição, John lançava vários Daily Howls por semana.
Os desenhos de John, basicamente, o credenciaram a frequentar a Liverpool College of Art. O livro de caricaturas que ele mantinha entre os colegas de infância foi dado de presente à Helen Anderson, uma colega de classe, em troca de um suéter amarelo. Em 1964, quando John Lennon já era mundialmente conhecido por sua música, seus desenhos entraram em cena mais uma vez. John lançou o livro In His Own Write,com vários desenhos que ilustravam seus contos surrealistas, recebendo ótima crítica. Provando que, além de sua genialidade como compositor, cantor, instrumentista e escritor, John Lennon era igualmente genial como desenhista.

fonte: http://beatlescollege.wordpress.com/2013/06/27/a-genialidade-de-john-lennon-como-desenhista/

Nenhum comentário:

Postar um comentário