domingo, 8 de setembro de 2013

Pela primeira vez em 50 anos, secretária dos Beatles fala sobre a banda em documentário.


Certamente, todo mundo conhece John, Paul, George e Ringo. Os mais informados sabem também quem são Pete Best, Stu Sutcliffe, George Martin e Brian Epstein. Mas quase ninguém, talvez só os mais apaixonados beatlemaníacos, já ouviu falar em Freda Kelly. Até agora.
Adolescente em Liverpool nos anos 1960, Freda foi secretária dos Beatles por 11 anos, mais do que os dez em que a banda ficou em atividade. Sob os protestos do pai, ela começou na função aos 17 e passou a ser responsável por cuidar das milhares de cartas que chegavam mensalmente para o quarteto que redefiniu os rumos do rock. Com rara discrição, Freda se notabilizou por se recusar a dar entrevistas, afastou-se daquela rotina tresloucada que levava ao lado dos Beatles e deu sequência à sua vida como secretária. Mas, 40 anos depois de pedir demissão, ela resolveu falar: sua história está retratada no documentário “Nossa querida Freda — A secretária dos Beatles” (“Good Ol’ Freda” no título original), que estreou nesta sexta-feira nos EUA e que terá sua primeira exibição no Brasil pelo Festival do Rio, entre 26 de setembro e 10 de outubro.
O filme só pôde ser feito porque a família de seu diretor, Ryan White, é amiga da de Freda. A ex-secretária, então, aceitou falar sobre o período que passou com a banda, um depoimento inédito que inclui declarações como “John era um homem de muitos humores, dependia de como ele acordava pela manhã” e “Paul criou a Magical Mistery Tour para tentar mantê-los juntos, mas não funcionou”.
— Muitas pessoas tentaram que Freda escrevesse um livro ou desse entrevistas, mas ela sempre se recusou — conta White, em entrevista por telefone ao GLOBO. — A verdade é que foi ela que me convenceu a fazer o filme. Como nós já nos conhecíamos, a Freda me procurou há alguns anos, porque queria alguém em quem confiasse para poder contar sua história. Ela sempre ficou na sombra, nunca circulou. Até para achar fotos antigas com ela foi difícil, porque seu nome nunca aparecia como palavra-chave para a busca em arquivos.
No próprio documentário, Freda, hoje uma mãe de família de 69 anos, diz que resolveu falar para que seu neto ficasse orgulhoso do que ela fez no passado. A ex-secretária passou a trabalhar para os Beatles em 1961 a convite de Brian Epstein, empresário da banda que se suicidou em 1967. Antes, ela já era fã do grupo, que conheceu em shows no histórico Cavern Club, em Liverpool. Mas foi trabalhando para os Beatles que Freda passou a ter um contato e, claro, um carinho maior pelo quarteto.
O documentário começa com o som de uma ligação telefônica, em que os quatro agradecem Freda pela “maneira como ela os tratou em 1963”, nas palavras de John Lennon. Dali, vão se alternando entrevistas com Freda, seus amigos e parentes, e também com algumas figuras especiais para a história. Paul McCartney, segundo o diretor Ryan White, não pôde dar entrevista porque estava atarefado com a preparação de um show para os Jogos Olímpicos de Londres, no ano passado. Mas, nos créditos de “Nossa querida Freda”, Ringo Starr, o outro Beatle ainda vivo, dá seu recado para a ex-secretária, dizendo que ela era parte da família.
— A Freda diz claramente que aquela foi a melhor década de sua vida. Mas ela nunca ficou rica, nem famosa. Foi um período que ficou no passado, e de que ela se orgulha muito — afirma White. — E foi muito interessante perceber como ela realmente não ficava mais falando sobre eles por aí. No lançamento do filme, no festival South by Southwest (SXSW), depois da sessão, a filha de Freda veio falar para mim que não conhecia 95% das histórias que estão no documentário.
Apesar de ter aceitado falar pela primeira vez sobre os Beatles, Freda se manteve respeitosa e evitou entrar em polêmicas acerca do comportamento da banda. Ela chega a relatar uma briga com John Lennon em que o fez o beatle se ajoelhar para pedir perdão, sob a ameaça de a partir dali só trabalhar para os outros três. Mas não vai muito além na intimidade do quarteto. Um dos momentos mais curiosos do filme é quando o diretor faz a pergunta que todo mundo que está lendo este texto deve estar se fazendo. “Você saiu com algum deles ?”, diz White.
Freda fica alguns instantes em silêncio e responde que não. Mas, após mais alguns segundos, pede para mudarem de assunto. “Isso é passado agora”, conclui a ex-secretária, pouco antes de lembrar que correram boatos em 1965 de que ela e Paul iriam se casar.
— Freda sempre me disse que há muita coisa sobre os Beatles nessas biografias e filmes ruins que não é verdade ou que é exagerada. Mas que ela não queria, e nem eu queria, fazer um filme que ficasse abordando fofocas — explica White.
Muito graças à enorme base de fãs que os Beatles ainda têm no mundo, “Nossa querida Freda” tem encontrado um caminho fértil pelos festivais de cinema. Desde o SXSW, em março, já foram mais de 20. Também já estão programadas exibições especiais e debates sobre o documentário até novembro. Mesmo para a produção, o filme se apoiou nos fãs, com uma campanha para arrecadar recursos pelo site de crowdfunding Kickstarter: White conseguiu US$ 58 mil da meta inicial de US$ 50 mil.
— Sabe que eu pensei que seria mais fácil conseguir financiamento? Pensei no Kickstarter justamente por causa dos fãs dos Beatles, mas acho que é uma plataforma muito nova, e nosso público-alvo principal é uma geração mais velha, não acho que eles estão acostumados a colaborar com crowdfunding. Mas tivemos até fãs no Brasil colaborando — afirma o diretor.
Outro fato raro do filme é ter conseguido a liberação de quatro músicas dos Beatles — “I saw her standing there,” “I will,” “I feel fine” and “Love me do” —, entre 20 canções da época que entraram na montagem final do documentário.
Mas o maior trunfo, definitivamente, é ter a simpática Freda Kelly relembrando seu passado, remexendo seu baú e dizendo frases que só alguém que fez parte da história da música pop poderia soltar: “Eu era apenas uma secretária naquela época, e o engraçado é que ainda sou secretária hoje. Você quer mesmo ouvir uma história de secretária?”
Claro que sim, Freda.

fontes: http://oglobo.globo.com/cultura/pela-primeira-vez-em-50-anos-secretaria-dos-beatles-fala-sobre-banda-em-documentario-9859579
http://www.latimes.com/entertainment/movies/moviesnow/la-et-mn-good-ol-freda-review-20130906,0,7622608.story
ou  http://www.foxnews.com/entertainment/2013/08/28/long-serving-beatles-secretary-freda-kelly-finally-breaks-her-silence/

Nenhum comentário:

Postar um comentário