sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Em 31 de dezembro de 1970, Paul McCartney entrava com um processo contra os Beatles

Em 31 de dezembro de 1970, há 45 anos, era iniciada uma batalha judicial entre Paul e o restante do Fab Four, encerrada apenas em 1975.
Em abril daquele ano, Paul e o restante do grupo já haviam comunicado o fim o sonho beatlemaníaco. Fãs que acompanharam a trajetória da banda ao longo da década de 1960 perceberam que, com a chegada de 1970, vinha também a ausência da maior banda do mundo. Yoko Ono, o empresário Allan Klein, brigas internas, falta de transparência nas contas auditadas da Apple, empresa criada pelo quarteto, foram as principais razões apontadas para a dissolução do grupo.
Desde abril, McCartney havia colocado um ponto final na relação com o restante dos Beatles em uma autoentrevista divulgada juntamente com seu primeiro trabalho solo, intitulado apenas com o seu sobrenome. Eram quatro páginas de texto, nas quais Macca dizia que o fim do grupo se devia a “diferenças pessoais, diferenças de negócios, diferenças musicais”. Não respondia se era uma decisão definitiva, mas afirmava não enxergar, em um futuro próximo, uma reedição da parceria com Lennon.
No último dia de 1970, o baixista e compositor de Liverpool assinou a ação judicial contra os três integrantes dos Beatles e deu entrada na papelada na High Court, em Londres. Os documentos que integram aquele processo, atualmente, são guardados no Arquivo Nacional da Inglaterra, uma hora de distância de Londres, ao lado de outros arquivos que marcaram a história do Reino Unido. O processo de Macca é depositado ali ao lado de outros papéis com mais de mil anos de idade. Isso evidencia como, em pouco menos de uma década, o legado do quarteto é relevante.
Paul e Linda chegando no Tribunal de Justiça em Londres
As diferenças entre os quatro Beatles já beiravam o insuportável no fim daquela década. Tensões artísticas, pessoais, nada ia bem entre Paul, George, Ringo e John. Abbey Road, disco de 1969, já foi gravado entre faíscas. Cronologicamente, o último álbum do grupo, Let It Be, nas prateleiras apenas após o encerramento das atividades do quarteto, foi gravado antes do trabalho anterior, mas seu lançamento também funcionou como fator determinante para o fim, assim como a atuação do então empresário da banda, Allen Klein, para com quem Macca tinha pouquíssimo apreço.
Klein, segundo detalhes dos arquivos do processo movido por McCartney revelados pela revista norte-americana Rolling Stone, havia usado sua influência na gravadora EMI, esta responsável por lançar os álbuns dos Beatles, para que adiassem a data de chegada às lojas do primeiro álbum solo do baixista, então marcada para 17 de abril de 1970, com a justificativa de que Let It Be também seria lançado naquele mês, assim como o disco Sentimental Journey, de Ringo. Executivos do selo entenderam que o turbilhão de trabalhos relacionados ao Fab Four enfraqueceria a venda e concordou com o pedido.
 Paul e Linda chegando no Tribunal de Justiça em Londres
McCartney foi avisado da decisão por uma carta, assinada por Lennon e Harrison, na qual eles diziam se tratar de uma escolha de negócios, “nada pessoal”. Starr foi até a casa do baixista entregar o documento. Macca o leu, gritou com o companheiro de banda e o enxotou para fora da sua mansão. Starr foi o responsável por convencer o restante do grupo a deixar McCartney, o disco, sair antes de Let It Be.
Klein (sempre ele?) havia contratado Phil Spector para produzir o derradeiro álbum dos Beatles, sem o conhecimento de Paul. O produtor alterou as harmonias de The Long and Widing Road, para desespero do baixista - em 2003, foi lançado o álbum Let It Be... Naked, com versões alternativas daquelas canções, deixando muito do trabalho de Spector de fora.
Por falar em Klein, a nomeação dele para exercer a função de empresário foi duramente criticada por McCarrney desde o início. Havia diferenças entre os quatro integrantes, mas o fim do grupo levado à justiça se deu porque Paul não confiava no escolhido para substituir Brian Epstein, morto em 1967. Ringo, John e George votaram pela contratação de Klein, cujo currículo incluía os Rolling Stones; Macca, não. O relacionamento do baixista com Linda Eastman se tornava cada vez mais forte e ele entendia que o pai e irmão da moça, os advogados Lee e John Eastman, deveriam ser os responsáveis pelos negócios da maior banda do mundo. Foi voto vencido porque os outros três temiam que o baixista fosse favorecido pela dupla. No fim, a derrota foi amarga para todos.
O processo do dia 31 de dezembro de 1970 colocou um ponto final severo na banda que influencia gerações até hoje. Lennon e Paul, que saudaram o amor, silenciaram, por fim. Como o próprio John cantou em God: “The dream is over”. O sonho havia mesmo chegado ao fim.

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