quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O quebra-cabeças que revela quem inspirou ‘Eleanor Rigby’ dos Beatles

Num cemitério de Liverpool, na Inglaterra, há uma lápide com o nome de Eleanor Rigby. O rascunho original da música de mesmo nome e a escritura de um jazigo serão vendidos este ano como parte de um leilão de memorabilia dos Beatles. Mas qual é a história por detrás da música?
John Lennon e Paul McCartney se conheceram em uma quermesse de igreja. A lápide de Eleanor Rigby fica a apenas algumas quadras de distância. Ela foi uma copeira que morreu aos 44 anos, em 1939.
Nove anos depois, McCartney escreveria a letra do que se tornaria um dos maiores sucessos dos Beatles.
A música conta a história de uma mulher que "morreu na igreja, e foi enterrada com o nome (da família)" ("Died in the church and was buried along with her name", no original em inglês). Geralmente, é interpretada como um lamento para as pessoas de vida solitária, ou como um comentário sobre a vida na Inglaterra do pós-guerra.
É tentador imaginar John Lennon e McCartney adolescentes, contemplando a lápide e imaginando a vida de Eleanor, antes de escrever a letra.
Mas a realidade é que pouca gente sabia da existência da lápide antes dos anos 1980. E o próprio McCartney negou que a tumba tenha servido de inspiração.
Isto não impediu que a escritura do jazigo dessa lápide fosse incluído no leilão, com um lance mínimo de £4.000,00 (R$ 16.279,60, na cotação de segunda-feira). Ela está entre outros itens relacionados aos Beatles que serão leiloados até esta quinta-feira.
O escritor David Bedford, autor de vários livros sobre os Beatles, disse ter achado "estranho" tanto interesse em uma pessoa que aparentemente não tem qualquer relação com a música.
"A partitura da música, até entendo. Mas o jazigo, realmente é incomum", disse.
"Não sei quem compraria a escritura de um jazigo. Estou curioso para ver quem vai comprar e por quanto", diz Bedford.
Mas Bedford também acha que seria "muita coincidência" se a lápide nunca tivesse passado pela cabeça de McCartney, pelo menos de forma subliminar. "A mitologia em torno da tumba aumenta todo ano", diz ele.
Fatos sobre a música Eleanor Rigby
- Escrita principalmente por McCartney, Eleanor Rigby foi lançada em 1966 como parte de um compacto de dois singles, que trazia, do outro lado, a música Yellow Submarine;
- A música também entrou no álbum Revolver (1966), e o single saiu no mesmo dia;
- O single passou quatro semanas no topo das vendas do Reino Unido;
- Nos EUA, chegou ao 11º lugar e foi indicada para três Grammys.
line break
A música parece ter sido modificada várias vezes antes de chegar ao formato final.
McCartney disse que quando se sentou ao piano pela primeira vez para trabalhar na canção, o nome "Daisy Hawkins" passou por sua mente. Depois, mudou para Eleanor, em homenagem à atriz Eleanor Bron, que aparece em no filme Help! dos Beatles.
Paul McCartney admite que a lápide de Eleanor Rigby pode tê-lo influenciado de forma subliminar
Em um determinado momento, o sobrenome foi mudado para Bygraves. É o que diz Spencer Leigh, autor de um livro sobre os Beatles. Mas McCartney depois mudou o sobrenome para Rigby, adotado de uma distribuidora de bebidas em Bristol ("Rigby & Evens Ltd, Wine & Spirit Shippers").
"Eu simplesmente gostei do nome", disse McCartney em 1984. "Eu estava atrás de um nome que soasse natural. Eleanor Rigby soava natural", diz ele.
 Igreja de São Pedro em Woolton, onde fica a lápide de Eleanor Rigby
Em 2008, a certidão de nascimento de uma mulher chamada Eleanor Rigby foi levada a leilão. Ela está enterrada no cemitério da igreja St. Peters em Woolton, Liverpool, onde está a lápide.
"Eleanor Rigby é um personagem totalmente fictício que eu inventei", disse McCartney na ocasião.
"Se alguém quer gastar dinheiro comprando um documento que prova a existência de um personagem fictício, por mim tudo bem". Mais tarde, ele admitiu que o fato de ter passado em frente à lápide pode tê-lo influenciado de forma subconsciente.
Para Spencer Leigh, é provável que as visitas de McCartney ao local quando criança tenham ficado na memória dele.
"John Lennon era ligado àquela igreja. Foi inclusive integrante do coral", diz o escritor Leigh.
"O tio [de Lennon] morreu em 1955, ainda jovem. O nome era George Toogood Smith (em português, soaria algo como George "bom demais" Smith). Lennon adorava este nome e costumava levar os amigos à lápide para mostrar", diz Leigh.
"Então, é possível que McCartney tenha visto a lápide dos Rigby e guardado na memória. É possível. Mas a verdade é que nós não sabemos, e acho que nem o próprio McCartney sabe", diz.
 
Karen Fairweather, da empresa de leilões Omega Auctions, diz que a ligação entre a Eleanor Rigby real e a música é "folclórica" e não está baseada em "fatos concretos".
"É claro que a lápide está lá. E os Rigbys moraram perto de onde John Lennon vivia", acrescenta ela.
Mesmo assim, a despeito da origem do nome, Eleanor Rigby continua sendo parte da história da banda e da "indústria dos Beatles" existente em Liverpool. A lápide é parte do roteiro de guias turísticos e uma escultura de Eleanor Rigby pode ser vista na rua Stanley.
Para Leigh, a música é "perfeita". Tanto na melodia quanto na representação de uma típica mulher de Liverpool daquela época. "A Eleanor Rigby real trabalhou como uma espécie de copeira. Encaixa muito bem [com a letra]".
Leigh diz que o cantor de jazz George Melly resumiu muito bem o tema: "Eleanor Rigby foi escrita a partir das experiências deles [dos Beatles] em Liverpool".
"Me atingiu como um poema logo quando eu li", disse. "Se você ler Love Me Do sem a música, não significa muito. Mas se você ler Eleanor Rigby, é um poema sobre uma pessoa. Algo que não havia sido feito até então na música popular", diz Leigh.
fonte/source: BBC Brasil ou BBC News

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