O inglês Sir George Martin completa hoje 90 anos, reconhecido como o produtor que ajudou a mudar a música do século 20, trabalhando, e influindo, em quase todos os discos lançados pelos Beatles (Let it Be foi o único que não produziu). No entanto, hoje, domingo, 3 de dezembro de 2016, os principais jornais de Londres não mencionam a efeméride. O que é lamentável, mas não de estranhar. O tempo é implacável. A primeira gravação de George Martin com os Beatles aconteceu 54 anos atrás, quando ele estava com 36. O grupo acabou há 46 anos.
No entanto, tanto tempo ter se passado, explica, mas não justifica, que no Google para se encontrar o produtor dos Beatles é preciso identifica-lo como tal, ou usar o título “Sir” antes do nome. E nos principais jornais ingleses e americanos de hoje, quem é notícia é o americano George Martin escritor e roteirista, por não ter entregue dentro do prazo seu novo livro. Ele é mais conhecido pela série A Game of Thrones.
Um dos críticos do desmanche da EMI, a outrora gigante da indústria fonográfica, Sir George Martin continua lúcido, em atividade, mas passou o bastão para o filho Giles Martin (que produziu o elogiado New, último álbum de Paul McCartney). Independente disto, Sir George hoje está sendo homenageado, planeta afora, pelos milhões de fãs dos Beatles, em cuja obra há muito do seu trabalho e sugestões.
Na autobiografia (escrita com Howard Massey) Here, There and Everywhere – My Life Recording The Music Of The Beatles, o engenheiro de som Geoff Emerick conta como foi a primeira sessão de gravação de George Martin e sua equipe (da qual Emerick fazia parte) com os Beatles no estúdio 2 da EMI em Abbey Road. Houve tensões aquela noite de outubro de 1962, realizada em meio a desentendimentos, contornados pela fleuma do produtor.
Um trecho abaixo, em tradução livre do original (o livro foi lançado no Brasil pela Novo Século, em 2013).
O COMEÇO
“Olhe aqui, George, tenho que lhe dizer. A gente acha esta música uma merda”. Entre as aspas está o que John Lennon disse ao produtor George Martin, depois de gravar How do You Do it? Uma canção encomendada a Mitch Murray, um compositor profissional inglês, para a estreia dos Beatles na EMI .
O produtor, também diretor do selo Parlophone, da EMI, conhecido pela sua extrema gentileza, mas pela personalidade forte, de falar sem arrodeios, olhou firme para Lennon, que amaciou um pouco a afirmação: “Bem, ela pode até ser legal, mas não exatamente o que a gente quer gravar”. “E o que vocês querem gravar?”. Lennon tirou os óculos de lentes grossas, e explicou: “Queremos gravar nosso próprio material, e não esta coisa fofinha feita por um fulano qualquer”.
George Martin retrucou: “Vou lhe dizer uma coisa, John, quando vocês conseguirem compor uma música tão boa quanto esta, eu gravo”. Paul McCartney entrou na conversa. Disse ao produtor que tinham uma inédita que achavam boa, e queriam lhe mostrar”. Tocaram Love Me Do. George Martin pensou um pouco, deu umas olhadas para o pessoal do estúdio e topou gravar a música dos rapazes.
Foi ele que sugeriu que John fizesse o solo de gaita. O resto, para usar o velho clichê, é história. Talvez não fosse, se ele tivesse obrigado o grupo a gravar a canção indesejável ou, se dias antes, não tivesse atendido ao convite de um cara chamado Chris Neal para ver o quatro caras que tinham vindo fazer um teste. Quatro capiaus do Norte do país, de cabeleiras e sotaque estranhos. George Martin veio olhar, não se mostrou entusiasmado, mas contratou a banda. Não tinha muito a perder se eles não dessem certo.
Comentário:
Boa matéria escrita por José Teles
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Boa matéria escrita por José Teles
fontes: JC/Toques e ShowBiz 411
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