quinta-feira, 7 de abril de 2011

Don McCullin fala sobre as fotos do livro "Um dia na vida dos Beatles"

A última coisa que Don McCullin deseja é ser lembrado como o homem que fotografou os Beatles durante um domingo de verão em Londres, dois anos antes do fim do mais famoso e bem-sucedido grupo de rock da História. Ao 76 anos, McCullin se surpreende ao ver o livro "Um dia na vida dos Beatles" (Cosac Naify), que reúne uma seleção de 92 fotos feitas naquele dia, das quais 89 inéditas, traduzido e publicado em vários países, inclusive no Brasil. Um dos mais importantes fotojornalistas do século XX, ele prefere editar compilações de seus flagrantes de guerra, fome e miséria.
- Fiz tudo como se estivesse em uma névoa - lembra McCullin, sobre o dia quente e ensolarado que passou fotografando os Fab Four no East End londrino. - Não costumava trabalhar com celebridades. Os negativos ficaram 30 anos esquecidos numa gaveta da Agência Magnum em Nova York. Nunca tive muito interesse neles. Pode parecer estranho, mas este não é o tipo de fotografia da qual me orgulho. Estava mais interessado em fotografar gente de verdade vivendo vidas de verdade, contrariando todas as expectativas, sobrevivendo apesar da guerra, da fome, da miséria. Os Beatles não me interessavam tanto. Mas eles eram as pessoas mais famosas do mundo, portanto, não pude recusar o convite. E me pagaram 200 libras, o que em 1968 era muito dinheiro - completa, confessando que a ideia de editar as fotografias engavetadas veio de seus editores, que farejaram um sucesso comercial.
McCullin acredita que a ideia de contratá-lo partiu de John Lennon, graças à cobertura fotográfica que fez das atrocidades da Guerra do Vietnã.
- Não tenho orgulho deste trabalho. Fiz coisas muito melhores, de importância histórica, revelando a tragédia de uma guerra sem equilíbrio. O livro dos Beatles é sobre show-business, o mundo da música, das celebridades, coisas de que realmente não gosto. As pessoas envolvidas nesse mundo são ricas, mimadas, arrogantes e vãs. Não que os integrantes dos Beatles fossem assim. Como eu, vieram de famílias operárias, tínhamos algo em comum, e eles me trataram muito bem - admite o fotojornalista inglês.
Após fotografar o quarteto num estúdio do jornal "Sunday Times", de onde saíram retratos que estamparam as revistas "Life" e "Paris Match", o grupo foi perambular pelas ruas de Londres.
- Não me lembro do dia exato. Era um domingo e era verão, o clima estava quente, tanto que Lennon e McCartney tiraram suas camisas quando estávamos na beira do Rio Tâmisa. Tudo aconteceu sem planejamento. Era preciso ser cuidadoso com os Beatles, eles sempre acabavam cercados por uma multidão de fãs. Foi estranho poder circular pelas ruas de Londres sem esquema de segurança - conta o fotógrafo, que terminou o dia com o grupo na casa de Paul McCartney, em St. Johhn's Wood, em um domo no jardim que parecia "cenário de um filme de ficção científica".
Na época em que as fotos foram tiradas, os Beatles estavam gravando o "Álbum Branco". Paul McCartney escreveu que foi uma fase "sombria" e "pesada". Sobre o estado de ânimo dos quatro durante a sessão de fotos, McCullin lembrou que já havia sinais de ruptura:
- Lennon estava animado. Sua mulher, Yoko Ono, causava uma atmosfera estranha. Paul foi muito brincalhão. Já Ringo Starr e George Harrison ficavam quietos no fundo. Acho que é onde sempre estiveram, não dava para competir com as personalidades de Lennon e McCartney.
Yoko Ono incomodou o fotógrafo com sua presença e seus comentários.
- Enquanto fotografava, ela disse algo como "por que o fotógrafo está posicionado no lugar errado?". Ela falou alto, queria que eu ouvisse, irritando-me. Não era o tipo de pessoa que eu queria ali. Mas não podia dizer nada, ou Lennon voaria no meu pescoço. Acabei abstraindo, como se ela fosse invisível, afinal não tinha nenhum respeito por ela - diz McCullin.
O fotógrafo não sabe se decepcionou o grupo. Diz que não era a pessoa certa para o trabalho, que os Beatles poderiam escolher alguém com mais experiência em fotos posadas.
O livro está sendo lançado no Brasil com 144 páginas com textos em português.

Comentário:

Ok...senhor Don McCullin se não tem orgulho desse trabalho porque lançou o livro?Distribuía de graça para os fãs.

Colaboração:Ana Claúdia Vieira Fragoso (irmã)

fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/04/05/autor-de-livro-com-imagens-ineditas-dos-beatles-diz-que-prefere-fotografar-gente-de-verdade-924168330.asp (menos o título)

3 comentários:

  1. Não vi o livro ainda, mas posso imaginar porque ele lançou esse trabalho..... Apesar de tudo, presente para nós que, com certeza, guardaremos com muito mais carinho do que ele!

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  2. o erro dele foi falar demais!pois desvalorizou o seu próprio trabalho.

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  3. Como desvalorizou??! Eu sou formado em Históira e já cansei de ver as fotos desse cara sobre o Vietinã, conflitos na Irlanda do Norte, e de pessoas que lidam com o estudo da guerra por suas visões!!! Fotos sensacionais, o cara é fodástico, e é um ser humano como todo mundo; hoje o cara tá velho, precisa comer... Não fez fortunas com seu trabalho e ainda arriscou seu pescoço inúmeras vezes.

    Não é de se estranhar que sua raiva do showbiss, pois os mesmos caras que investem nesta indústria também investem na indústria das armas e consequentemente da guerra!!! Essas empresas possuem ações na bolsa de valores!!! Os mesmos que investem na bolsa da Apple Records!!!

    Estudem um pouco de história!!! Ai vocês verão que o cara tem completa razão no que diz!! Vida longa Sr McCullin!!!

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