Capa de uma edição do Daily Howl
Antes mesmo de se interessar pela música,
John Lennon descobriu outra paixão: o desenho. Depois que Julia entregou
seu filho aos cuidados da irmã mais velha, Mimi, a vida de John entrou
em uma nova fase, com muitas regras, castigos e o contato com a leitura e
a alfabetização. Logo que Lennon foi “adotado” por sua tia Mimi, ela o
inscreveu na Escola Primária Dovedale, onde aprendeu a ler rapidamente.
Tio George, marido de Mimi, se tornaria um verdadeiro pai para John, que
desafiava a autoridade militar da esposa ao contrabandear doces ilegais
depois que as luzes da casa se apagavam e ajudava o sobrinho a soletrar
palavras do Liverpool Echo.
Logo que se mudou para a casa dos Smith,
John começou a implorar que lhe comprassem lápis, caixas de tinta e
papel ao invés de brinquedos. Ao passo que seus pedidos foram atendidos,
ele passava horas do dia absorto nos mundos que criava com seus
desenhos. Em Dovedale, ganhou vários prêmios de arte, incluindo um livro
intitulado “Como desenhar cavalos”, que ele guardaria como
troféu por muitos anos. Seu critério de escolha de temas costumava
surpreender e, às vezes, escandalizar qualquer adulto ou professor
acostumados com ilustrações infantis como gatos, casas ou “minha
família”. Um exemplo notável foi uma pintura que fez de Jesus Cristo –
uma figura de cabelos compridos e barbada, quase prevendo sua imagem
vinte anos depois. Porém, a especialidade genuína de John eram as
caricaturas dos colegas e professores, louca e estranhamente distorcidos
e, no entanto, absolutamente reconhecíveis, provocando imediatamente as
gargalhadas de suas pobres vítimas, tanto crianças como adultos.
Dois artistas cômicos, um britânico e um
americano, teriam profunda influência sobre o estilo de John. Ele
adorava a técnica intricada e rabiscada dos traços de Ronald Searle,
cujas sádicas alunas de St. Trinian (St Trinian’s School, o cartoon mais
famoso de Searle) eram baseadas nos guardas que ele conhecera como
prisioneiro de guerra dos japoneses na Birmânia. E, graças a Mimi,
tornou-se um devoto de James Thurber, cujos textos para a revista The New Yorker
e cartoons de traços vacilantes e surrealistas eram conseqüência da
acentuada cegueira de Thurber. Mais tarde, John admitiria que começara a
“thurberizar” seus desenhos a partir dos quinze anos de idade.
Caricatura de Pete Shotton (esquerda) e auto-retrato (direita) no caderno de exercícios de John
John mantinha um caderno de exercícios
especialmente para suas caricaturas de professores e colegas, organizado
meticulosamente, como ele raramente fazia. Pete Shotton (“Um Simples
Peters Cabeludo”), seu fiel amigo, era um frequente habitante do caderno
de John, inequívoco com seus cachos pálidos e rosto rosado, sacudindo
um chocalho de bebê ou espiando de dentro de uma lata de lixo. Havia até
um auto-retrato, usando seus odiados óculos do Plano Nacional de Saúde e
com a legenda auto-depreciativa de “Simply a Simple Pimple Shortsighted
John Wimple Lennon”, algo como “Simplesmente um Simples Espinhento e
Míope John Wimple Lennon”. “Wimple”, o trocadilho com “Winston”, era o
nome de um personagem de um dos programas de rádio favoritos de John, Life with The Lyons.
O livro de caricaturas circulava pelos
colegas de John sempre que era atualizado com um novo desenho. Certa
vez, Harry Gooseman recebeu até mesmo autorização para levá-lo para casa
uma noite e mostrá-lo à família. Até mesmo os professores de Quarry
Bank, como ninguém imaginava, acabavam rindo com a mesma intensidade dos
alunos quando topavam, por acaso ou não, com as caricaturas. Num
período letivo de verão, durante os preparativos para a festa campestre
da escola para angariar fundos, John propôs, meio na brincadeira,
decorar quadrados de cartolina com caricaturas dos professores e depois
pendurá-los para que as pessoas jogassem dardos sobre eles – para seu
espanto e de todos os seus amigos que faziam parte do grupo que tinha
acesso fácil às caricaturas de John, a idéia foi aceita pela direção. O
jogo atraiu uma grande multidão e Shennon e Lotton (conheça as aventuras de Shennon e Lotton)
foram depois condecorados por terem levantado mais dinheiro do que
qualquer outra barraca, apesar de terem desviado dezesseis libras para
si mesmos.
Caricaturas de professores no caderno de exercícios
Não demorou muito para John criar seu próprio jornal em miniatura escrito e ilustrado inteiramente por ele próprio, intitulado The Daily Howl
(“O Uivo Diário”). O jornal consistia de parágrafos em estilo de
mexericos, cartoons isolados e em tiras, escritos à mão, com traços de
régua e coloridos com todo o empenho. Haviam piadas sobre celebridades
como Fred Emney, Stanley Unwin e o mágico careca da TV David Nixon.
Sobre o próprio nome do meio de John, Winston; e, como sempre, sobre
negros e aleijados, algumas frases sendo fonetizadas (“thik ik unk”, por
exemplo, significava “this is a”) para representar um impedimento de
fala. Apesar do intenso trabalho que dava criar uma edição, John lançava
vários Daily Howls por semana.
Os desenhos de John, basicamente, o
credenciaram a frequentar a Liverpool College of Art. O livro de
caricaturas que ele mantinha entre os colegas de infância foi dado de
presente à Helen Anderson, uma colega de classe, em troca de um suéter
amarelo. Em 1964, quando John Lennon já era mundialmente conhecido por
sua música, seus desenhos entraram em cena mais uma vez. John lançou o
livro In His Own Write,com vários desenhos que ilustravam seus contos surrealistas, recebendo
ótima crítica. Provando que, além de sua genialidade como compositor,
cantor, instrumentista e escritor, John Lennon era igualmente genial
como desenhista.
fonte: http://beatlescollege.wordpress.com/2013/06/27/a-genialidade-de-john-lennon-como-desenhista/
Nenhum comentário:
Postar um comentário