quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Lançado no Brasil livro de Geoff Emerick, engenheiro de som dos Beatles

Um jovem inglês de 15 anos que sonha ser engenheiro de som de uma grande gravadora. É assim que começa a história de Geoff Emerick, que superou seus objetivos profissionais ao ter o privilégio de acompanhar praticamente toda a existência da banda formada pelos garotos de Liverpool, contada em sua biografia “Here, there and everywhere: Minha vida gravando os Beatles”, que acaba de chegar ao Brasil pela Editora Novo Século. 
Emerick sempre foi um aficionado por música. Quando criança se deliciava nos porões de seus avós com discos antigos tocados numa vitrola. Narra com emoção o primeiro rádio que ganhou de presente do pai. A bateria usada que comprou por três libras. O piano, a guitarra e a flauta que aprendeu a tocar sozinho. Mas desde cedo decidiu que não queria ser músico, queria ser engenheiro de som. 
Ao terminar o colégio, optou por não ir para a faculdade. Mandou cartas para as quatro principais gravadoras de seu país pedindo um emprego como técnico. Todas foram negadas. Até que um orientador vocacional de seu colégio soube das intenções do jovem e conseguiu uma entrevista para ele na EMI, uma das mais importantes na época. Mesmo sem experiência, foi contratado
Logo que começou o trabalho foi escalado para gravar uma banda formada por quatro integrantes: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.
“A maioria das pessoas pensava que Lennon era o líder dos Beatles por causa das entrevistas e aparições públicas, mas ao longo dos anos sempre me pareceu que McCartney era o verdadeiro líder. Nada era feito sem que ele aprovasse”, lembra. 
Ao longo das 480 páginas, Emerick descreve a personalidade e os talentos distintos de cada um dos Beatles. Conta em detalhes os ensaios e os testes que fizeram para dezenas de músicas. As exaustivas horas que passaram dentro dos estúdios. As brigas. As drogas. A constante busca pela perfeição. 
“Os Beatles estavam exigindo cada vez mais, muito mais, tanto de mim quanto da tecnologia. Eram perfeccionistas e nem sempre entendiam os limites dos instrumentos musicais”. 
A fama merece um capítulo à parte. 
“Nos primeiros dias de Beatlemania sempre parecia haver ao menos uma centena de meninas acampadas do lado de fora do estúdio”. Emerick relata um dia que “meninas histéricas” invadiram a gravadora, correndo e gritando por seus ídolos e sendo perseguidas por policiais e seguranças. 
“Ringo, ainda em seu banco de bateria, parecia um pouco abalado, mas John, Paul e George logo começaram a brincar com a situação, correndo pelo estúdio, rindo e gritando, imitando as fãs”. 
O engenheiro de som participou de alguns dos mais importantes álbuns da banda, revelando as fases pelas quais os Beatles passavam em cada um deles. “Revolver”, lançado em agosto de 1966, contava com toda a empolgação de jovens recém-lançados ao sucesso. Cansados pelos desgastes de uma turnê internacional, decidiram focar-se apenas nas gravações em estúdios, tendo passado quatro meses e meio na preparação de “Sgt. Pepper’s”, lançado em junho de 1967. 
No ano seguinte, em novembro de 1968, foi lançado o Álbum Branco, ou simplesmente “The Beatles”. Na mesma época, os integrantes da banda abriram a Apple Corps – para a qual Emerick foi convidado a trabalhar -, uma empresa que pretendia lançar novos artistas ao mercado, mas que, na verdade, nunca decolou. Nem todas as músicas agradavam mais. Precisaram aprender a lidar com as críticas.
“Era como se alguém tivesse lhes mostrado que eles não eram tão importantes quanto pensavam. Eles sentiam que podiam gravar quase qualquer coisa e o público aceitaria, mas não era tão simples assim”. 
Mesmo em meio às rachaduras e tensões, em 1969 foi lançado o “Abbey Road”. 
“A ideia era que o álbum se chamasse ‘Everest’, mas eles não quiseram ir até lá para fazer as fotos. Então, Ringo disse: Que se dane, vamos lá fora e chamamos o disco de ‘Abbey Road’”, que era o nome da rua onde ficavam os estúdios. Eis que surgia a faixa de pedestres mais famosa do mundo, que ainda hoje todos os dias recebe dezenas de turistas para reproduzir a imagem que estampou o álbum
Em 1970, logo após o lançamento de “Let it Be”, é anunciado o fim da banda. Emerick continuou na Apple Corps e fez trabalhos solo para McCartney, de quem se tornou um grande amigo. Lembra ainda quando soube do assassinato de John Lennon, em 1980. 
“A morte dele me deixou arrasado por um bom tempo. John pode ter tido uma natureza agressiva, mas ele também tinha um senso de humor maravilhosamente sarcástico”. 
Quase 25 anos depois, em 1994, fruto de uma parceria entre os três Beatles e a viúva de Lennon, Yoko, o fiel engenheiro de som ajudou no lançamento do documentário “The Beatles Anthology”, que reuniu imagens e entrevistas inéditas da banda.
“Enquanto ouvia cada claquete anunciando o título e o número das faixas, eu sentia que era imediatamente transportado para aquele momento no tempo, de volta ao lugar de inocência e admiração, uma época em que o céu parecia ser o limite para jovens idealistas de todo o mundo… sobretudo para quatro rapazes de Liverpool”. 
A riqueza de detalhes é algo que realmente impressiona durante a leitura. Nada passa despercebido aos olhos do atento engenheiro de som. Sua sensibilidade aguçada é capaz de interpretar até os sentimentos mais profundos de um Beatle apenas com um olhar. O leitor sente-se como um convidado de honra para acompanhar a construção de músicas que embalariam toda uma geração – e o melhor: direto do estúdio. Uma experiência indispensável a qualquer Beatlemaníaco.


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