domingo, 30 de janeiro de 2011

Os Beatles excursionam pela América em 1964 parte final

Chegaram então em Detroit, terra da Motown e da música que os Beatles tanto adoravam. Mas na eterna seqüência interminável de viagens, hotéis, entrevistas e shows, sempre iguais, com meninas berrando, flashes pipocando e balas jujubas sendo atiradas sobre eles, uma cidade acabava tendo a mesma aparência que a seguinte. As perguntas infames agora não tinham mais graça para os rapazes, já estressados pela fadiga das viagens. P: O que acham de Detroit? Paul: Estamos tendo uma ótima recepção, estamos todos lisonjeados. Mas como posso dizer que gosto de Detroit? Eu sequer pude ver a cidade. P: Ouvimos dizer que vocês não tocarão em Jacksonville se eles não permitirem a entrada de negros. Isto é verdade? Paul: Bem, pelo que ouvimos, foi permitido a eles apenas sentar nas laterais, mas não na área central. O nosso contrato prevê que nós não tocaremos a não ser que eles possam entrar onde quiserem.
Em Toronto, dez mil pessoas aguardavam a chegada dos Beatles no aeroporto desde a noite anterior, um recorde. Na chegada ao hotel, desta vez o público derrotou a polícia. John foi agarrado por uma menina e, sorrindo, lutou bravamente para se soltar. Paul teve várias meninas agarrando-o e acabou com suas roupas rasgadas. Ringo idem. Só George, o mais rápido naquele dia, saiu ileso. Depois Ringo comentou, "Acabamos ficando para trás mas a polícia agiu rápido e nos salvou". Lennon retrucou, "A melhor vista da cidade está sobre os ombros azuis da polícia". Lá fora, o canto continuava: "We want the Beatles!" Exaustos, a direção do hotel trouxe gente para congratulá-los, quando o que eles queriam era apenas comer e dormir. George passou a cumprimentar as visitas com o pé e as pessoas finalmente perceberam que estava na hora de ir embora e deixá-los descansar. Deram duas apresentações para uma arena lotada, com 16.761 pessoas por show. No dia seguinte, em Montreal, outros dois shows estavam igualmente lotados. John Lennon lutava contra um resfriado já há alguns dias, tomando injeções para segurar a saúde e agüentar o pique. Uma ameaça contra a vida de Ringo Starr foi levada a sério pela polícia, frente a problemas com a FLQ (Frente de Libertação de Quebec).
Enquanto os Beatles tocavam em Toronto, o furacão Dora varria a Florida, e com ela Jacksonville, a cidade seguinte depois de Montreal. Os planos originais eram do grupo descansar em Montreal depois do show mas, com a ameaça de vida sobre Ringo, sequer passaram pelo hotel onde tinham reservas, saindo do avião direto para os dois shows e daí de volta para o avião. O aeroplano os levou para Key West, Florida, onde descansaram por dois dias, com relativa tranqüilidade. Mesmo com a população ficando ciente de suas presenças, não foram ostensivamente molestados, uma grata surpresa. Um milionário, Tony Martinez, ofereceu sua piscina para os rapazes curtirem. Dias depois, os Beatles descobriram que a água da piscina tinha sido engarrafada e vendida como "Água Beatles", e o lucro supostamente ido para caridade. Ninguém acreditou.
Em Jacksonville o avião tinha que ficar circulando ao redor do aeroporto, aguardando o presidente Johnson deixar a cidade. O presidente passou o dia em Jacksonville para verificar os estragos deixados pelo furacão. Quando os Beatles finalmente aterrizaram, a criançada conseguiu invadir a pista. Felizmente, infiltraram-se através de um ponto oposto aonde estava o aeroplano, e o escort presidencial levou a troupe até o seu hotel. O estádio tinha diversos cameramen tentando filmar a apresentação dos Beatles, com fins comerciais. Eles já vinham tentando isso em pequenos grupos desde o início da excursão, sendo devidamente expulsos pela equipe de Epstein. Aqui não foi possível controlar previamente o fluxo destes profissionais. Derek Taylor então subiu ao palco, enquanto o povo urrava o já tradicional "We Want The Beatles!". Ele pegou um microfone e dirigiu-se ao público, "Os Beatles estão a cinco metros de distância." O povo urrava. "Eles viajaram milhares de milhas e a única coisa que os está impedindo de subir ao palco são esses senhores com suas filmadoras." E Derek apontou para os cameramen. O público vaiava os cameramen. "Silêncio! Se vocês querem que os Beatles se apresentem, por favor peçam para os policiais mostrar aos cameramen a saída". "Fora!, Fora!" o público passou a urrar, enquanto homens fardados começaram a aparecer colocando suas mãos nas lentes e retirando mais de oito profissionais com suas filmadoras. Em seguida os Beatles deram o seu concerto habitual, apesar dos ventos fortes que ainda persistiam. Do show foram para o aeroporto, a caminho de Boston.Com a excursão já quase no final, as prefeituras das cidades aprenderam que a chegada dos Beatles em suas cidades era um fenômeno muito maior do que os cem policiais exigidos por contrato pudesse resolver. Neste terço final, a proteção, que já contou com escort presidencial em Jacksonville, tem agora polícia montada e detetives particulares, além de obrigar folgas de policiais a serem canceladas e colocar oficiais em plantão por doze horas. Nem presidente nem realeza obrigaram a tamanha movimentação de uma segurança local.
Em Cleveland, quinhentos policiais fizeram hora extra, mais bombeiros e assistentes da Defesa Civil. Infelizmente, apesar da contingência, a segurança não estava emocionalmente preparada. Quase na metade do show as crianças partiram em direção ao palco, algumas atropelando outras, e alguns policiais foram feridos. O oficial Bare, encarregado da segurança, invadiu então o palco tomando um dos microfones e ordenou: "O concerto está cancelado!" Os Beatles o ignoraram e continuaram a tocar. Lennon e Harrison foram arrancados do palco pela polícia, e todos ficaram furiosos com a estupidez e falta de bom senso demonstrados por ela. Derek Taylor pediu para conversar com o público, dizendo que ele resolveria o problema, e o oficial Bare apenas riu dele. Os Beatles já estavam se arrumando para ir embora quando Derek finalmente conseguiu permissão para subir ao palco e conversar com a multidão. Novamente, como em Jacksonville, ele explicou ao público que o destino do concerto estava nas mãos deles mesmos. "Se vocês quiserem que os Beatles continuem tocando, é imprescindível que permaneçam sentados. A segurança do evento depende de sua cooperação". O público começou a entoar "Sentem, Sentem!" e as coisas pareceram voltar ao normal. Derek Taylor conseguiu de novo e os Beatles voltaram a vestir seus ternos, subiram ao palco e continuaram de onde pararam.
Em Nova Orleans, o prefeito Schiro declarou o dia 16 de setembro como o Dia dos Beatles e presenteou cada um com uma chave da cidade, e pediu autógrafos em troca. Estar ao lado dos Beatles  se mostrou ser politicamente vantajoso. Antes do show, foram apresentados a Fats Domino, grande ídolo dos rapazes, em um dos momentos mais importantes da excursão para eles. Em Kansas City, 40% do contigente policial foi destacado para cuidar de assuntos ligados à segurança dos Beatles . Somente durante o furacão de 1957 tal contingente fora destacado para um único evento, comentou um oficial. Este foi o show mais caro na história do rock 'n' roll até então, os Beatles  sendo pagos a US$150,000 por uma apresentação que sequer teve lotação esgotada. O dono do estádio ficou no prejuízo mas ainda assim estava feliz em tê-los trazido à cidade. Em troca, os Beatles tocaram uma música a mais, só para Kansas City e o show transcorreu sem maiores incidentes. Em Dallas, tendo o presidente Kennedy sido assassinado há menos de um ano, os Beatles se sentiram extremamente intimidados. A minutos antes dos portões serem abertos, o auditório recebeu uma ameaça de bomba mas a única coisa que a inspeção achou foi fãs escondidos nos lugares mais esdrúxulos. De se destacar, apenas o fato de o show ser uma das poucas apresentações em que os Beatles puderam se ouvir na maior parte do tempo. O último concerto da excursão foi um sucesso.
Os Beatles então tiraram dois dias de descanso na fazenda do dono da American Flyers, em Alton, Missouri, onde comemoraram o 30º aniversário de Brian Epstein. Depois voltaram a Nova York, para um show beneficente no Paramount Theater. Com todo o dinheiro que eles estavam ganhando na América, uma apresentação beneficente para crianças retardadas era uma maneira simpática de agradecer e evitar problemas futuros. Como sempre, todas as atrações anteriores à entrada dos Beatles foram insultadas e, quando os Beatles subiram ao palco, os flashes pipocaram interminavelmente e as balas jujubas voaram. Ao final do dia, Lennon e Dylan conversaram no quarto do hotel até altas horas.
Durante a volta para Londres, no dia seguinte, uma sensação de orgulho pela missão cumprida estava estampada no rosto de toda a equipe. Não havia nada que pudesse antever as proporções exageradas de entusiasmo neste continente. Se as pessoas urravam nos shows do Elvis Presley, nunca os Estados Unidos viram milhares de adolescentes acamparem em frente aos hotéis de seus ídolos como aconteceu em todos os lugares por onde os Beatles passaram. Foi reportado que apenas o assassinato de John Kennedy conseguiu se igualar, em termos de quantidade de matéria, ao espaço ocupado nos jornais pelos Beatles. Mais do que um sucesso comercial, esta foi a excursão que criou o modelo para os grandes concertos das décadas seguintes.
Para o ano seguinte, a amplificação especificamente desenhada para as excursões dos Beatles seria utilizada, dando início aos "Sound Systems" que hoje até os cinemas mais sofisticados oferecem. Rock 'n' roll, a partir de então, realmente passaria a ser levado a sério; primeiro pelo dinheiro que demonstra poder levantar e em segundo, pela vigilância sob a segurança do público e dos astros, que o frenesi exige. Para os Beatles, as excursões seriam muito como foi definido no filme "A Hard Day’s Night", onde a vida se tornara uma interminável seqüência que girava em torno de um avião e um quarto, um carro e um quarto, um quarto e um quarto.
O Itinerário
19 Ago - Cow Palace San Francisco, California
20 Ago - Convention Hall Las Vegas, Nevada
21 Ago - Seattle Center Coliseum Seattle, Washington
22 Ago - Empire Stadium Vancouver, British Columbia; Canada
23 Ago - Hollywood Bowl Los Angeles, California
26 Ago - Red Rocks Stadium Denver, Colorado
27 Ago - Cincinnati Gardens Cincinnati, Ohio
28/29 Ago - Forest Hills Tennis Stadium Queens, New York
30 Ago - Convention Hall Atlantic City, New Jersey
2 Set - Convention Hall Filadélfia, Pennsylvania
3 Set - Indiana State Fair Coliseum e Grandstand Indianapolis, Indiana (2 shows)
4 Set - Milwaukee Auditorium Milwaukee, Wisconsin
5 Set - International Amphitheater Chicago, Illinois
6 Set - Olympia Stadium Detroit, Michigan
7 Set - Maple Leaf Garden Tornonto, Ontario; Canada
8 Set - The Forum Montreal, Quebec
11 Set - Gator Bowl Jacksonville, Florida
12 Set - Boston Gardens Boston, Massachusetts
13 Set - Baltimore Civic Center Baltimore, Maryland
14 Set - Pittsburgh Civic Arena Pittsburgh, Pennsylvania
15 Set - Public Auditorium Cleveland, Ohio
16 Set - City Park Stadium New Orleans, Louisiana
17 Set - Athlete's Stadium Kansas City, Kansas
18 Set - Memorial Coliseum Dallas, Texas
20 Set - Paramount Theater Manhatten, New York
Repertório
Twist And Shout,You Can't Do That,All My Loving,She Loves You,Things We Said Today,Roll Over Beethoven,Can't Buy Me Love,If I Fell,I Want To Hold Your Hand,Boys,A Hard Day’s Night e Long Tall Sally.

fonte:http://whiplash.net/materias/especial/000088-beatles.html

2 comentários:

  1. linda reportagem sobre a passagem dos beatles pela america, li todas as partes e valeu muito a pena.

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  2. obrigado!o material era vasto então fiz em 4 partes senão cansava

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