domingo, 22 de fevereiro de 2015

A fã brasileira que cantou e gravou com os Beatles

O ano era 1990 e, pouco depois de anunciar sua primeira ida ao Brasil, em uma entrevista coletiva para jornalistas brasileiros, Paul McCartney cumprimentou os profissionais de imprensa presentes no evento em Indianápolis, nos Estados Unidos.
Parou diante de uma fotógrafa. "Por que acho que te conheço?", perguntou.
"A gente cantou junto", respondeu Lizzie Bravo.
Há exatos 47 anos, a carioca fez história de maneira quase acidental ao participar de uma gravação dos Beatles no legendário estúdio de Abbey Road, em Londres. Ela e a britânica Gayleen Pease fizeram vocais de apoio em Across The Universe, balada composta por John Lennon. Uma história devidamente registrada em seus diários de adolescente, que ela transformou no livro Do Rio a Abbey Road.
E a participação ocorreu de forma inusitada: naquele 4 de fevereiro de 1968, Bravo, então com 16 anos, cumpria rigorosamente sua rotina de fã devota dos Beatles, montando guarda perto da portaria do estúdio em Abbey Road. Assim como fazia todos os dias desde que tinha chegado a Londres, em fevereiro de 1967, após convencer os pais a bancar uma viagem para Londres como presente pelo aniversário de 15 anos.
fotos tiradas por Lizzie Bravo
Mão levantada
"Paul apareceu na porta do estúdio e perguntou 'Quem aí de vocês consegue segurar uma nota aguda?'. Eu levantei a mão na hora, porque tinha sido soprano no coral do colégio. Nem pensei no motivo da pergunta", diz a brasileira, em entrevista à BBC Brasil. 
Bravo logo descobriria: ao entrar no estúdio 2, usado pelos Beatles desde suas primeiras gravações para a EMI, em 1963, ela e Pease encontraram os Beatles em meio a uma sessão de gravação.
"John e Paul explicaram que precisavam dos vocais de apoio, ensinaram para a gente o que queriam. Foram bem gentis comigo e Gaylee", lembra a carioca.
"Paul até brincou comigo, pedindo para que eu cantasse em 'brasileiro'. Naquela época, em Londres, você vir do Brasil era como ser um E.T."
Na época, os Beatles já viviam tensões internas fortes, ao ponto do baterista Ringo Starr, meses depois, abandonar as gravações do Álbum Branco após uma briga com McCartney. Mas Bravo tem recordações de uma sessão bem diferente.
"O clima no estúdio era tranquilo e os quatro estavam de bom humor, fazendo piadas e tudo. Foi tudo muito surreal e eu acabei cantando no mesmo microfone do John, que foi o Beatle de quem sempre gostei mais", contra a brasileira, hoje com 63 anos.
Foram duas horas de gravação e, segundo Bravo, "várias" tomadas foram feitas, o que obrigou as meninas a repetir à exaustão a frase "Nothing is gonna change my world" (nada vai mudar o meu mundo, em inglês), cantada de forma bem aguda. No final, Bravo e Pease simplesmente deixaram o estúdio. Bravo voltou para seus "posto" na porta. Pease foi para casa.
"A gente não tinha a menor noção do que acabara de acontecer. Éramos duas meninas, duas fãs. Não ficamos amigas dos Beatles. Costumo brincar que nenhum amigo me deixaria esperando por eles na neve. E, no dia da gravação, ficamos na porta do estúdio até duas da manhã", diz Bravo.
John e Lizzie Bravo
Sideral
A brasileira morou em Londres até outubro de 1969, religiosamente montando guarda todos os dias em Abbey Road.
"Trabalhava como babá e empregada, com pouca grana. Fiquei com saudades de casa", lembra Bravo
"Os Beatles estavam para se separar, já nem vinham todos os dias para o estúdio. E nem vinham juntos. Estava um pouco cansada daquela vida".
Across The Universe foi lançada em quatro versões diferentes, em apenas uma há o vocal de Bravo e Pease. Mas foi esta versão que acabou sendo escolhida pela Nasa em fevereiro de 2008 para a transmissão de uma mensagem enviada na direção da estrela Polaris, localizada a 431 anos-luz da Terra, para tentar contato com extraterrestres.
"Foi algo extremamente especial para mim que justamente a versão de que participei tenha sido escolhida. Até porque pouquíssimas pessoas tiveram a chance de sequer estar com os Beatles na mesma sala, o que dirá cantar com eles pelo espaço", brinca.
Embora não seja desconhecida, a história da fã brasileira recrutada pelos Beatles ainda causa surpresa. Com o livro, Bravo espera não apenas contar suas memórias de Londres, mas lançar um pouco mais de luz sobre o que ela chama de "humanidade" do quarteto.
"Os Beatles ganharam status de deuses ao longo dos anos, mas é importante que as pessoas saibam que eles eram gente como a gente. Também é importante mostrar para as gerações mais novas que essas estrelas nem sempre viviam no alto de um pedestal, algo impensável nos dias de hoje. Era um mundo mais ingênuo, sem essa coisa de seguranças e guarda-costas", conta a carioca.
Atualmente, ela participa de palestras em eventos de fãs dos Beatles e já foi contactada para participar da Internacional Beatleweek, uma espécie de "peregrinação" anual dos fãs do grupo a Liverpool, a cidade natal dos quatro músicos.
Lizzie Bravo e sua filha Marya
Em Indianápolis,ela teve um encontro rápido com Paul McCartney.Também naquela ocasião, nada foi falado sobre o cachê que ela e Pease deveriam ter recebido pela participação em Across The Universe.
Mas também ela viu George Harrison e Ringo Starr depois de 1990.
"Em 1968, Paul mencionou que a gente ganharia alguma coisa. Mas nunca quis cobrar, né?", argumenta a brasileira.
A ligação com os Beatles segue na vida da cantora: sua filha, Marya, faz parte do elenco de Beatles num Céu de Diamantes, musical inspirado na obras dos Beatles visto por mais de 350 mil pessoas no Brasil.

fontes: BBC Brasil e BBC UK

4 comentários:

  1. Como sempre, várias coisas sairam erradas, mas no geral a matéria ficou boa.

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    1. Olá Lizzie
      eu copiei a matéria do Fernando Duarte....então se algo estiver errado não é a minha responsabilidade se não colocaria a fonte.
      Se tiver algo para corrigir me avisa ...que farei com todo prazer!

      meu email: brenosilvafragoso@gmail.com

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    2. Atualizei e corrigi no final....abaixo de sua foto

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  2. Entendo que a Lizzie viveu um momento de sonho, inimaginável para qualquer fã da banda, que a fez ser conhecida no mundo inteiro, sem precisar matar um beatles como fez aquele idiota que me nego dizer seu nome. Mas sempre que leio algo a respeito deste momento da Lizzie, tem o comentário sobre a falta do pagamento que o Paul prometeu. Sei das história do Paul com os caras do Wings etc... Mas será que a Lizzie já não está bem paga? Por tudo o que representa sua participação na gravação eternizada, as oportunidades que lhe foram dadas, não foram suficientes? Quantas pessoas neste mundo fariam loucuras para ter a oportunidade que ela teve? Desculpe aqueles que pensam ao contrário mas não entendo desta forma. Será que a Lizzie está pagando alguma coisa para os Beatles pela possibilidade de escrever um livro sobre este episódio? Se estiver eu estou totalmente errado na minha maneira de ver.

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