Pouca gente sabe, ou se
lembra, mas George Harrison já esteve no Brasil. Em 31 janeiro de 1979
ele veio ao nosso país, não para se apresentar, infelizmente, mas para
acompanhar o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, uma de suas paixões. Na
ocasião, a revista Música conseguiu uma entrevista exclusiva com o
ex-Beatle, e ainda um autógrafo em nome da revista, que é um tesouro.
Além de exibir o autógrafo, a matéria traz fotos dele no autódromo.
George era muito amigo do piloto Emerson Fitipaldi, para quem fez uma
versão de 'Here Comes The Sun', após o amigo ter sofrido um acidente.
George Harrisom é um
ex-Beatle, e por isso não encontra paz em lugar algum do mundo. Mesmo já
tendo passado 10 anos da dissolução do 'quarteto de Liverpool', todos
cobram dele posições com relação a uma possível nova formação do grupo, à
política praticada pelo conjunto, ao relacionamento entre eles, etc. E,
durante 10 anos, em todos os cantos deste planeta, onde vai passear,
descansar, gravar, tem que responder às mesmas perguntas. Naturalmente
no Brasil não seria diferente.
Vindo para ver a corrida
de Fórmula 1, devidamente acompanhado por Jackie Stewart - um dos
melhores pilotos da categoria - e Emerson Fittipaldi - de quem tornou-se
amigo graças ao gosto pelo esporte - George foi alvo de ataques
sistemáticos por parte da imprensa e de fãs, que não o deixaram à
vontade.
Por Música ele começou a ser contatado em São Paulo e terminou no Rio de Janeiro, onde participou de entrevista coletiva.
Música - Por que você nunca se interessou em visitar a América do Sul antes, especialmente o Brasil?
George - Bem, nós
estamos muito ligados à Europa e aos Estados Unidos, por contratos,
shows, gravações, enfim, é um mundo que está muito mais ligado a nós,
músicos. E, apesar de todo mundo pensar que temos muito tempo de folga,
nós somos muito atados a compromissos. Mas devo reconhecer que é uma
falha de nossa parte, temos muito a aprender por aqui.
Música - É difícil aguentar a barra de ser ex-Beatle? Todo mundo dá mais valor a seu trabalho naquele tempo, esquecendo o atual?
George-
Realmente, depois de passado tanto tempo a gente chega até a duvidar de
que os Beatles tenham tido tanta influência na juventude. Quando nos
juntamos e fizemos os Beatles, nada disso passava pela nossa cabeça,
sabíamos que tínhamos um tipo de música que poderia vir a fazer sucesso,
mas nunca imaginávamos tudo isso. Inclusive, nunca fomos um grande
conjunto, éramos um conjunto razoável, assim como os Stones. Tudo isto a
gente tem que explicar em qualquer lugar onde esteja. Mas, na Europa e
Estados Unidos, por estarmos mais frequentemente, eles já esqueceram um
pouco este lado e passaram a observar nosso trabalho individualmente.
Música - Como você está hoje, depois de tanto tempo na luta?
George - Bem, já
estou completando 36 anos (25 de fevereiro), mas não tenho intenção de
alguma de parar. É claro que a gente vai diminuindo o ritmo, mas parar
não. Já faz parte do cotidiano, inclusive não estou mais atrás de
dinheiro, mas de satisfação pessoal. O dinheiro deixou totalmente de ser
importante, aprendi isso com a filosofia hindu. Eu o uso para viajar,
comprar, divertir, nunca como um fim. Sei que há muitos músicos que
mudaram sua linha apenas para se tornarem mais comerciais e ganhar mais
dinheiro. Até os Beatles fizeram isso por algum tempo, mas quando você
atinge alguns bens materiais necessários, pra que mais?
Música - Como anda o relacionamento entre você, Paul, Ringo e John?
George - A gente
não se vê periodicamente por falta de tempo. Quando um está livre, o
outro não, quando um está na Europa, outro está fora. Mas não existe
qualquer tipo de rivalidade, as que existiam foram superadas há muito
tempo, o resto é por conta da imprensa. John acalmou-se e está curtindo a
família, talvez tenha-se cansado de ser muleta para a fraqueza alheia.
Ringo é um bon-vivant, gravando quando quer e badalando muito, sempre
foi o mais alegre de nós, o que dava mais importância à alegria e ao
descompromisso, e Paul é o mais trabalhador, o que mais gosta de
promoção em torno de seu nome. Claro que hoje é o que mais faz sucesso, o
que mais vende disco, mais por uma necessidade pessoal que propriamente
por dinheiro.
Música - Qual seu real interesse por filosofia hindu?
George - Ela me
ajudou muito a me conhecer por dentro. Não dou mais valor a roupas,
carros, viagens, garotas, badalações, tudo isso porque acredito que seja
uma maneira de cobrir a solidão da qual todos têm medo. Quando você se
encontra, descobre o enorme potencial que há dentro de você, todo o
resto passa a ser futilidade. Mas isto também vem com o tempo. Quando
era jovem, também queria ser badalado. Foi a India que me modificou
completamente."
Música - E as possibilidades de você apresentar no Brasil?
George - A gente tem um manager que cuida da agenda,e nem eu mesmo sei
direito quais os meus compromissos.Mas acredito que possa vir,profissionalmente,no começo do ano que vem.Gostei muito do Brasil,mesmo achando São Paulo uma cidade muito cheia e o Rio com uma arquitetura feia,típica de uma corrida imobiliária.
George - A gente tem um manager que cuida da agenda,e nem eu mesmo sei
direito quais os meus compromissos.Mas acredito que possa vir,profissionalmente,no começo do ano que vem.Gostei muito do Brasil,mesmo achando São Paulo uma cidade muito cheia e o Rio com uma arquitetura feia,típica de uma corrida imobiliária.
O que mais me surpreendeu foi o total desconhecimento do povo em relação ao desmatamento sistemático da Amazônia.
Mas é justamente o pessoal que mais me atraiu,gente alegre,bonita e colorida.
Acredito realmente que volte mais vezes.
Acredito realmente que volte mais vezes.
Comentário:
Procurei reproduzir essa ótima matéria do blog The Beatles Report que colocou essa rara entrevista para uma revista brasileira pois eu nunca tinha visto!Espero que o blog volte com novas matérias como essa!Essa é a edição de abril de 1979 da revista Música da editora Imprima.
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