As canções de Julio Iglesias, George Harrison ou Nino Bravo a todo
volume serviam de pano de fundo para as torturas na ditadura de Augusto
Pinochet - morto em 2006 - no Chile.
My Sweet Lord, de Harrison, Eu quero apenas, Roberto Carlos, Venceremos, Libre,
de Nino Bravo, ou várias canções de Julio Iglesias foram usadas para
abafar os gritos das torturas ou diretamente para abalar os presos,
explica a professora da Universidade de Manchester (norte de Inglaterra)
Katia Chornik.
— São músicas que os presos que entrevistei mencionaram, nomes de
canções que apareceram mais de uma vez. Mas temos que pensar que o
número de pessoas detidas chega a 40 mil. Foram mais de mil locais e eu
me concentro em nove — disse a investigadora.
Katia Chornik estuda o papel da música nos centros de detenção,
prisões e campos de concentração da ditadura de Pinochet (1973-1990). O
golpe de Estado completa 40 anos nesta quarta-feira.
— Comecei a investigar há uma década. Comecei a investigar a música
nos campos nazistas e percebi que havia uma situação que me tocava muito
mais de perto - meus pais estiveram presos -, que era a dos campos
chilenos — relatou.
— Em alguns locais, a música continuava quando os agentes haviam
cumprido seu horário, continuava a todo volume — explicou. — Por
exemplo, havia um centro de tortura na rua Irã de Santiago que os
agentes chamavam de 'discoteca': o objetivo era calar os gritos dos
prisioneiros.
— Na chamada 'no-touch torture' ou tortura sem contato que foi
desenvolvida pelos Estados Unidos desde os anos 50 e que ainda é
observada no contexto da guerra ao terror, são usadas músicas e sons
como forma de saturar os sentidos e provocar desintegração psicológica —
explica.
Carlos Reyes, fotógrafo chileno exilado em Londres, passou dois anos
detido no Chile e contou à AFP que "muitas vezes quando havia sessões de
tortura colocavam música muito alta".
— O que tocava na rádio. Qualquer música que estava na moda. Nos
campos de concentração colocavam música militar para marchar, para
cantar, te obrigavam a cantar — relembra. — A música era parte das 24
horas do dia — resume o fotógrafo.
Ao mesmo tempo, a música consolava os detentos.
— Entre os presos se cantava muita música latino-americana, mas eram
escolhidas com cuidado, evitando aquelas de caráter político que
poderiam provocar problemas — afirmou Chornik.
Alguns músicos chegaram a dar prosseguimento a suas atividades nos campos, como Ángel Parra, filho de Violeta Parra, que compôs La pasión según San Juan, Oratorio de Navidad no campo de Chacabuco.
fontes: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/09/musicas-de-roberto-carlos-e-george-harrison-eram-ouvidas-nas-torturas-da-ditadura-pinochet-4265254.html ou http://www.mirror.co.uk/news/world-news/george-harrisons-music-used-torture-2265137
Nenhum comentário:
Postar um comentário