É uma experiência curiosa a de responder ao homem da alfândega, que
questiona se você está no Reino Unido "a lazer" ou "a trabalho": "Vim
entrevistar Paul McCartney".
Barry, o nome no crachá do rapaz encorpado, arregala os olhos castanhos e hesita um momento, como se fosse pego de surpresa no meio de um cochilo. Carimba o passaporte. Não é impossível, afinal.
Sir Paul, 71, terá na semana que vem disco novo na praça. "New" é o nome dele.
Para divulgar o primeiro trabalho só com temas inéditos em seis anos, o ex-Beatle topou falar com uma seleta trupe: repórteres da Coreia do Sul, da Finlândia, de Cingapura... até um de São Paulo.
Esta "Nações Unidas" de jornalistas aguarda por mais de uma hora num pub todo de madeira, com sofás de couro verde e um pato empalhado numa redoma de vidro.
Um repórter oriental consulta um notebook com um adesivo da língua dos Rolling Stones (ops), uma senhora toda de vermelho folheia livro de fotos de Paul feitas por sua mulher Linda, morta em 1998.
Até que o assessor nos chama ao subsolo do The London Edition Hotel, no bairro londrino de Fitzrovia. "Pessoal, teremos 15 minutos. Se quiserem fazer perguntas apertem o botão do microfone à sua frente", anuncia aos 20 jornalistas alinhados numa mesa comprida.
Todos recebemos as condições, em vermelho: "Sem fotos ou vídeos", "Sem autógrafos", "Só perguntas sobre o novo álbum". Também era proibido gravar (mandariam o link). Gravei escondido.
Nas vésperas da entrevista, os assessores nos mandaram só seis músicas do novo trabalho de Paul, por um sistema eletrônico.
Já no subsolo, um dos nove assessores da equipe acrescenta mais uma regra. "Nenhum presente", diz, para desapontamento de uma senhora muito perfumada que carregava um embrulho.
Paul entra em seguida, todo faceiro, de paletó azul, mascando chiclete. Seu rosto parece menos esticado do que nas fotos. Sua voz soa mais grave do que nos 100 milhões de álbuns vendidos por ele ("Guinness", o livro dos recordes: "Artista de composição e gravação mais bem-sucedido de todos os tempos").
E vamos logo, ipsis litteris, porque serão só 15 minutos e 20 segundos para duas dezenas de perguntadores.
Pergunta um (jornalista não identificado): "Suas canções mais conhecidas, como 'Let It Be' e 'Yesterday', foram escritas em momentos difíceis. 'New' tem canções sobre alegria. Qual a diferença de escrever sobre um tema e outro?".
Paul: "Estou vivendo um período feliz na minha vida. Tenho uma nova mulher. Quando você tem nova mulher, tem novas músicas. Mas há muita tristeza latente no disco. Se você ouvir mais, perceberá traços de dor se transformando em risos".
Pergunta dois (uma jornalista alemã): "Você reforçou o fato de que queria contratar produtores cool para este disco. O que é cool para você? Você é cool?".
Paul: "Não me sinto cool. Adoraria ser. Mas eu sou só eu".
Outra pergunta (um jornalista japonês): "O sr. tem shows agendados no Japão, bem-vindo. Quantas músicas do novo disco incluirá na turnê e que mensagem tem para o povo japonês? Obrigado."
Paul: "Esperamos fazer três ou quatro novas, mas será difícil encaixar. O show está funcionando muito bem. A faixa de abertura, bem rocky, funciona muito bem ao vivo. Faremos três ou quatro, talvez. Veremos. Você verá".
Barry, o nome no crachá do rapaz encorpado, arregala os olhos castanhos e hesita um momento, como se fosse pego de surpresa no meio de um cochilo. Carimba o passaporte. Não é impossível, afinal.
Sir Paul, 71, terá na semana que vem disco novo na praça. "New" é o nome dele.
Para divulgar o primeiro trabalho só com temas inéditos em seis anos, o ex-Beatle topou falar com uma seleta trupe: repórteres da Coreia do Sul, da Finlândia, de Cingapura... até um de São Paulo.
Esta "Nações Unidas" de jornalistas aguarda por mais de uma hora num pub todo de madeira, com sofás de couro verde e um pato empalhado numa redoma de vidro.
Um repórter oriental consulta um notebook com um adesivo da língua dos Rolling Stones (ops), uma senhora toda de vermelho folheia livro de fotos de Paul feitas por sua mulher Linda, morta em 1998.
Até que o assessor nos chama ao subsolo do The London Edition Hotel, no bairro londrino de Fitzrovia. "Pessoal, teremos 15 minutos. Se quiserem fazer perguntas apertem o botão do microfone à sua frente", anuncia aos 20 jornalistas alinhados numa mesa comprida.
Todos recebemos as condições, em vermelho: "Sem fotos ou vídeos", "Sem autógrafos", "Só perguntas sobre o novo álbum". Também era proibido gravar (mandariam o link). Gravei escondido.
Nas vésperas da entrevista, os assessores nos mandaram só seis músicas do novo trabalho de Paul, por um sistema eletrônico.
Já no subsolo, um dos nove assessores da equipe acrescenta mais uma regra. "Nenhum presente", diz, para desapontamento de uma senhora muito perfumada que carregava um embrulho.
Paul entra em seguida, todo faceiro, de paletó azul, mascando chiclete. Seu rosto parece menos esticado do que nas fotos. Sua voz soa mais grave do que nos 100 milhões de álbuns vendidos por ele ("Guinness", o livro dos recordes: "Artista de composição e gravação mais bem-sucedido de todos os tempos").
E vamos logo, ipsis litteris, porque serão só 15 minutos e 20 segundos para duas dezenas de perguntadores.
Pergunta um (jornalista não identificado): "Suas canções mais conhecidas, como 'Let It Be' e 'Yesterday', foram escritas em momentos difíceis. 'New' tem canções sobre alegria. Qual a diferença de escrever sobre um tema e outro?".
Paul: "Estou vivendo um período feliz na minha vida. Tenho uma nova mulher. Quando você tem nova mulher, tem novas músicas. Mas há muita tristeza latente no disco. Se você ouvir mais, perceberá traços de dor se transformando em risos".
Pergunta dois (uma jornalista alemã): "Você reforçou o fato de que queria contratar produtores cool para este disco. O que é cool para você? Você é cool?".
Paul: "Não me sinto cool. Adoraria ser. Mas eu sou só eu".
Outra pergunta (um jornalista japonês): "O sr. tem shows agendados no Japão, bem-vindo. Quantas músicas do novo disco incluirá na turnê e que mensagem tem para o povo japonês? Obrigado."
Paul: "Esperamos fazer três ou quatro novas, mas será difícil encaixar. O show está funcionando muito bem. A faixa de abertura, bem rocky, funciona muito bem ao vivo. Faremos três ou quatro, talvez. Veremos. Você verá".
MUNDO IMPOSSÍVEL
"Num mundo impossível, seria legal se as pessoas não soubessem o que já fiz", diz Paul McCartney na coletiva sobre seu álbum, "New".
É a resposta a uma jornalista norueguesa que fala rápido e tem uma questão, ou melhor, duas, sobre "o novo e o velho" e "nostalgia".
"Em geral as pessoas procuram no que estou fazendo uma continuação de todo o resto. Não esquento muito com isso. Minha principal preocupação é não copiar o que fiz no passado. Já me peguei sentado com minha guitarra pensando: vou escrever uma nova 'Eleanor Rigby'. Mas em seguida penso: 'Hmm, não não farei isso'."
Em seguida vem a pergunta de um jornalista chileno: "Desde 2010 você esteve todos os anos na América do Sul. Há chance de levar a nova turnê para lá?".
Paul: "Não tenho planos de voltar, mas amamos ir para lá. Falo isso para as pessoas. Uau. Falei para Bruce Springsteen ir lá. As pessoas na América do Sul amam música. Adoram festejar, dançar. Estive no Brasil. Tum, tum, tum [imita a percussão do samba 'Que Bonito É']. Adoro ir ao Sul, mas não temos previsão. Temos ido demais. Amamos eles, eles nos amam, o que há de errado com isso?".
O jornalista polonês toma a palavra: "Oi, sou de Varsóvia e estava no meio dos fãs que gritaram muito no seu show lá. Queria perguntar sobre os seus novos fabulosos quatro produtores. Deve ser engraçado para você, imagino que ao menos três você conheça desde criança. Queria saber como os conheceu".
Paul: "O Mark Ronson eu conheci quando ele foi DJ do meu casamento, dançamos muito na pista. Ele colocou músicas maravilhosas. Ele é amigo do Sean Lennon. Giles Martin eu conhecia desde criança. Ethan Johns era filho de Glyn Johns, um de meus produtores nos Beatles e nos Wings. Paul Epworth não conhecia. Mas tinha ouvido o trabalho.
"Num mundo impossível, seria legal se as pessoas não soubessem o que já fiz", diz Paul McCartney na coletiva sobre seu álbum, "New".
É a resposta a uma jornalista norueguesa que fala rápido e tem uma questão, ou melhor, duas, sobre "o novo e o velho" e "nostalgia".
"Em geral as pessoas procuram no que estou fazendo uma continuação de todo o resto. Não esquento muito com isso. Minha principal preocupação é não copiar o que fiz no passado. Já me peguei sentado com minha guitarra pensando: vou escrever uma nova 'Eleanor Rigby'. Mas em seguida penso: 'Hmm, não não farei isso'."
Em seguida vem a pergunta de um jornalista chileno: "Desde 2010 você esteve todos os anos na América do Sul. Há chance de levar a nova turnê para lá?".
Paul: "Não tenho planos de voltar, mas amamos ir para lá. Falo isso para as pessoas. Uau. Falei para Bruce Springsteen ir lá. As pessoas na América do Sul amam música. Adoram festejar, dançar. Estive no Brasil. Tum, tum, tum [imita a percussão do samba 'Que Bonito É']. Adoro ir ao Sul, mas não temos previsão. Temos ido demais. Amamos eles, eles nos amam, o que há de errado com isso?".
O jornalista polonês toma a palavra: "Oi, sou de Varsóvia e estava no meio dos fãs que gritaram muito no seu show lá. Queria perguntar sobre os seus novos fabulosos quatro produtores. Deve ser engraçado para você, imagino que ao menos três você conheça desde criança. Queria saber como os conheceu".
Paul: "O Mark Ronson eu conheci quando ele foi DJ do meu casamento, dançamos muito na pista. Ele colocou músicas maravilhosas. Ele é amigo do Sean Lennon. Giles Martin eu conhecia desde criança. Ethan Johns era filho de Glyn Johns, um de meus produtores nos Beatles e nos Wings. Paul Epworth não conhecia. Mas tinha ouvido o trabalho.
E completa: "Era no trabalho deles que eu estava interessado. Todos
fizeram grandes coisas recentemente, não no passado. Foi ótimo".
Um assessor diz: "É uma pena, mas o tempo acabou".
"É isso, pessoal, tenho de voltar para Sussex. Obrigado, gracias, arigatô."
"Só uma última pergunta: você ainda tem uma cítara que foi feita para você na Índia?", diz uma mulher.
Paul responde repetindo, confuso: "Uma cítara, da Índia? Sim, tenho. Só não tenho conseguido tocá-la".
Fim da entrevista.
Um assessor diz: "É uma pena, mas o tempo acabou".
"É isso, pessoal, tenho de voltar para Sussex. Obrigado, gracias, arigatô."
"Só uma última pergunta: você ainda tem uma cítara que foi feita para você na Índia?", diz uma mulher.
Paul responde repetindo, confuso: "Uma cítara, da Índia? Sim, tenho. Só não tenho conseguido tocá-la".
Fim da entrevista.
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