“Estamos fartos de fazer música suave para pessoas suaves e estamos
fartos de tocar para eles também. Mas essa é a oportunidade de um novo
começo, entende?”. Essa é a fala de John Lennon para um atônito George
Martin, que não acredita muito no que está ouvindo.
Paul McCartney reforça: “Nós não podemos nos ouvir no palco com todos
aqueles gritos! Nós tentamos tocar ao vivo algumas músicas do último
álbum, mas há tantos overdubs complicados que não podemos fazer justiça a
eles. Agora podemos gravar qualquer coisa que desejarmos. E o que nós
queremos é elevar um pouco o nível, fazer o nosso melhor álbum”.
Esse diálogo aconteceu no final de 1966 no estúdio Abbey Road, está
reproduzido por Geoff Emerick, engenheiro de som dos Beatles, no livro Here, There and Everywhere – Minha Vida Gravando os Beatles
e serviu para duas coisas: anunciar o fim das apresentações ao vivo do
grupo e dizer que, a partir daquele momento, o céu era o limite dentro
do estúdio.
A partir disso, durante os quatro meses e meio seguintes, John e Paul
se esforçaram para criar uma das obras mais completas (e complexas) da
história da cultura pop. Já que não iam ter que reproduzir ao vivo
mesmo, valia de tudo: overdubs, efeitos, técnicas de gravação inovadoras
e, claro, pirações mil. Nesse contexto nasceu o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
O conceito do disco só surgiu no fim do processo, já quase na mixagem
final. O primeiro som foi “Strawberry Fields Forever”, de Lennon, que
acabou não entrando no corte final do disco. Mesmo assim, a partida já
começava com uma jogada brilhante da equipe de Liverpool. Nessa época,
os Beatles trabalhavam por dias numa única faixa, refazendo takes e
criando sons. O perfeccionismo estava a mil. Só para essa faixa foram 30
horas de estúdio – e ela foi aproveitada no disco seguinte do grupo, Magical Mistery Tour.
“When I’m Sixty-Four” foi a seguinte. “Penny Lane” foi registrada
logo depois, mas teve o mesmo fim de “Strawberry Fields…”: virou um
single, fora do disco.
Na sequência das gravações viria a última música do disco e que se
tornou um hino do pop: “A Day in the Life”. No livro, Geoff leva pelo
menos 20 páginas para detalhar todos os aspectos da gravação dessa
faixa: de músicos clássicos e tradicionais atônitos por terem que tocar
de improviso (“cada um vai subindo a nota do seu instrumento até o
limite, em 24 compassos”) até a frase que encerra o disco.
John e Paul resolveram criar um happening dentro do estúdio
pois queriam finalizar o disco com alguma frase ou brincadeira. Então,
os quatro andavam, corriam e falavam coisas sem sentido nos microfones
do Abbey Road até que saísse algo. O que ouvimos no disco é Paul
McCartney, com voz acelerada, dizendo: “Never neeeded any other way”,
algo como, “nunca precisei de que fosse de outra forma”.
O conceito surgiu depois de todas as faixas já gravadas e isso
funcionou perfeitamente: a banda fictícia do “Sargento Pimenta” é que
sairia tocando pelo disco, com as músicas sem intervalos. Para isso, já
que tudo estava pronto, algumas músicas tiveram trechos regravados para
que casassem com a abertura da próxima ou o encerramento da anterior. E
Geoff, como engenheiro de som, adicionou efeitos e ruídos em outras.
fonte: Billboard Brasil e BT (english)
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