segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O álbum John Lennon/Plastic Ono Band completa 45 anos - Parte Final

Comentários sobre cada faixa pelo jornalista Jamari França:
Mother – Abre o disco com o som de um sino fúnebre simbolizando a morte de sua mãe, Julia Stanley, atropelada em 15 de julho de 1958 depois de sair da casa da irmã, Mary 'Mimi' Elizabeth, a caminho de sua residência onde John a aguardava. Ele já homenageara a mãe em Julia, uma balada do álbum branco, mas aqui reflete a dor da perda e de nunca ter tido Julia como mãe nos anos de crescimento. “Mãe, você me teve, mas eu nunca tive você – Eu te queria, você não me quis” (“Mother, you had me, but I never had you - I wanted you, you didn't want me”), são os versos iniciais. Também se refere ao pai, Alfred Lennon, com quem mal conviveu, pois era marinheiro e vivia embarcado, até que sumiu no mundo em 1943 para reaparecer só quando John já era famoso. “Pai, você me deixou, mas eu nunca te deixei – Eu precisava de você, mas você não precisava de mim” (Father, you left me, but I never left you - I needed you, you didn't need me”) diz a segunda estrofe. E para os dois ele diz “Então, preciso lhes dizer adeus, adeus - “Mamãe não se vá – Papai volte para casa” (So I, I just got to tell you goodbye, goodbye - Mama don't go - Daddy come home). Levada lenta com piano, baixo e bateria. No final os berros cortantes da terapia.

Hold On – Uma balada tranqüila que se refere às barras que os dois estavam atravessando. Nas duas primeiras estrofes ele pede a si mesmo e a Yoko que tenham calma porque tudo vai ficar bem. Que quando se está sozinho tem que se ter calma para tudo dar certo e finalmente fala “E quando você é um – Realmente um – Você faz as coisas – Como nunca fez antes. (“And when you’re one - Really one – Well you get things done – Like they never been done”). John dobrou a voz com pequenas diferenças, no mix está uma em cada canal do estéreo. John toca uma guitarra com vibrato.

I Found Out – Um desabafo raivoso com distorção, levada reta, não é grande coisa em termos musicais, mas a letra segura a onda. Berra que ficar sentado com o pau na mão não faz de ninguém um homem, que nenhum Jesus vai cair do céu. Que os Hare Krishna só te deixam louco sem nada para fazer, confessa que foi viciado, que viu a religião de Jesus a Paul (o papa na época era Paulo VI), alerta para não serem enganados com drogas e cocaína, diz que nenhum guru pode enxergar além de seus olhos e manda cada um sentir a própria dor. E que seus pais não o queriam e, por isso, o transformaram num astro (do rock).Porradaço. O DVD da série Classic Rock mostra que John usou um violão National com placa redonda de metal plugado num amplificadorzinho Fender Vibro Champ saturado

Working Class Hero – John leva essa só na voz e violão, descrevendo passo a passo a vida de um cidadão comum e suas escassas chances de ser alguém neste mundo. Diz que somos oprimidos desde o nascimento, que a dor que nos inflingem chega a um ponto em que nada mais sentimos, que nos dopam com sexo, religião e TV." John dizia que o herói da classe média era ele mesmo, mais um processado pela maquinaria da sociedade para ser alguém, ou não. E ainda: “Você tem que se humilhar totalmente para ser o que os Beatles eram e eu sinto ressentimento disso.” John gravou com voz e violão, depois mudou a última estrofe mas, em vez de gravar tudo de novo, registrou apenas a nova parte.

Isolation – Levada lenta com piano, órgão, bateria. Na letra John fala algo semelhante ao que Janov falou: “Todo mundo acha que a gente se deu bem, mas não sabem que estamos cheios de medo e isolados.” Diz que todo mundo tenta derrubá-los e diz que não culpa quem lhe fez mal porque todos são vítimas da insanidade. Na segunda parte John canta duas vezes, uma em cada canal

Remember – Apesar de estar envolvido com Yoko numa cruzada pela paz, Remember é um alerta contra os reveses da vida em perguntas e respostas. Lembra quando você era jovem e os heróis nunca eram enforcados, sempre se safavam? Lembra quando você era pequeno e todos pareciam tão altos e tudo tinha que ser do jeito deles? Lembra de seu pai e sua mãe que pareciam querer ser astros do cinema, sempre representando seus papéis? (Remember when you were young? - How the hero was never hung –(…) Just remember when you were small - How people seemed so tall - Always had their way - Do you remember your Ma and Pa - Just wishing for movie stardom - Always, always playing a part). No final ele diz “Remember the fifth of november” e uma bomba explode. É uma referência à Conspiração da Pólvora, uma tentativa frustrada de explodir o Parlamento em 1605 por ativistas católicos revoltados com a repressão à sua crença.

Love – Aqui está mais uma prova de que John não era ruim em baladas românticas. Uma declaração de amor a Yoko com violão e guitarra. A canção começa e, fade in e so é audível lá pelo oitavo/décimo segundo. A letra é bobinha, mas o todo funciona bem. John foi mais um que se apaixonou e ficou babacão. “O amor é real – Real é o amor – O amor é querer ser amado – O amor é você e eu” ("Love is real - Real is love - Love is wanting to be loved - Love is you and me") e por aí vai.

Well Well Well – Gravado em trio John na guitarra, Ringo na batera e Klaus no baixo, conta cenas do cotidiano do casal. "Levei minha amada para um campo grande – para vermos o céu inglês (...) – sentamos e falamos de revolução – Como dois liberais ao sol – Falamos da liberação feminina – E de como poderíamos resolver as coisas (I took my loved one to a big field - So we could watch the english sky – We sat and talked of revolution - Just like two liberals in the sun - We talked of womens liberation - And how the hell we could get things done)

Look At Me – Uma canção lenta em voz e violão com uma bela melodia sobre a redefinição pessoal com muitas dúvidas em perguntas sem resposta. “Quem eu devo ser? – O que devo fazer? – Aqui estou – Olhe para mim – Quem sou eu? – Ninguém sabe só eu – Ninguém mais pode ver – Só você e eu.”

God – Esta, já citada acima, conta com Billy Preston ao piano, John lhe pediu um tom gospel porque Billy era religioso, num gesto de ironia afetiva, já que a canção, entre outras coisas, nega Jesus e a Bíblia. E os políticos Hitler e Kennedy. E misticismo oriental Buda, Gita, Yoga, Mantra, I-Ching, Tarô. E músicos, Elvis Presley, Zimemrman (Bob Dylan) e Beatles. 

My Mummy’s Dead –O disco acaba como começou, uma referência à mãe, Julia. Em Mother o tom era de revolta, aqui um canto lamentoso de tristeza só com guitarra. Minha mãe morreu – Não consigo aceitar – Já fazem muitos anos – É difícil explicar tanta dor – Nunca pude mostrar – Minha mãe morreu ("My Mummy's dead - I can't get it through my head - Though it's been so many years - It's hard to explain - So much pain - I could never show it - My Mummy's dead").
fonte: Texto de Jamari França tirado do O Globo

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