segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cynthia Lennon escreveu em livro sua versão sobre a vida de John


Se há algo que não falta nas prateleiras das livrarias são relatos sobre os Beatles - nem nas estantes virtuais: uma busca na Amazon.com em livros com referências ao quarteto ultrapassa os 46 mil resultados. Agora, uma personagem de peso na história da banda e, principalmente, na vida de John Lennon acrescenta mais detalhes. "John" (Larousse, 350 páginas, tradução de Andrea Gottlieb de Castro Neves) é o relato de Cynthia Lennon, primeira mulher do compositor, que o conheceu em uma aula de caligrafia, ainda no fim dos anos 1950, na faculdade, e com ele ficou até 1968, quando o músico a deixou para ficar com Yoko Ono.
Embora recupere os primeiros anos dos Beatles, o livro - publicado na Inglaterra em 2005, mas que chegou ao Brasil apenas no fim de 2009 - vale mais pelas impressões que Cynthia fornece de Lennon, então um jovem marcado pela morte precoce da mãe (por atropelamento, quando ele tinha 14 anos) e pela criação por uma tia durona, Mimi. Cynthia já tinha publicado um livro, "A twist of Lennon", em 1978, mas que agora classifica de "superficial".
Famílias de ambos eram contra o casamento

Cynthia conta que sua família e amigos foram contra o relacionamento, no início: aquele rapaz metido a músico, que não dava atenção às aulas, não era para ela. Reação típica da classe média do interior da Inglaterra da época. O surpreendente é que, no fim do livro, ela confessa que, se soubesse das consequências que a paixão por Lennon acarretaria, teria "dado meia-volta e me afastado dele para sempre".
A vida ao lado de John Lennon foi uma montanha-russa do começo ao fim, por motivos diversos: após superar a pequena diferença social - nem a mãe de Cynthia nem a tia de John aprovavam o namoro -, veio a falta de dinheiro. Passagens de trens e ônibus, almoços modestos, cigarros e um black velvet (mistura de cerveja Guinness e espumante) no pub eram tudo o que as mesadas dos dois financiavam. Como ninguém tinha casa, o sexo era feito nas dunas da praia de New Brighton ou em um apartamento emprestado por um amigo. O temperamento explosivo do compositor também aparece em diversos momentos.
Quando a antiga banda de Lennon, os Quarrymen, começou a se transformar nos Beatles (ainda com Pete Best na bateria), Cynthia conheceu personagens como Paul McCartney e George Harrison. O último, segundo ela, era alvo de algum desprezo da dupla: "George era o garoto que os seguia. (...) Eles o toleravam porque ele era bom, mas o tratavam com ar de superioridade e com frequência o ignoravam quando estavam absorvidos em algo juntos".
Lennon e Epstein foram apenas amigos

A ascensão dos Beatles, relatada de forma ágil, sem o excesso de detalhes que já estão em diversos outros livros e filmes, é alegre, apesar da ralação a que os músicos eram submetidos. Cynthia conta que, antes de começar a trabalhar com o empresário Brian Epstein, que foi essencial em sua escalada rumo ao estrelato, os Beatles faziam brincadeiras no palco, dançavam, comiam e bebiam durante os shows, e frequentemente tocavam versões de 20 ou 30 minutos de suas músicas. Os shows mais enxutos, os cabelos e os terninhos são, segundo Cynthia, obra de Epstein. O empresário, que só recebe elogios da autora, teria sido grande amigo de Lennon, mas ela rechaça categoricamente as frequentes insinuações de uma relação homossexual entre os dois. Epstein, que de fato era gay, morreu de overdose em 1967, aos 32 anos.
Por falar nisso, Cynthia não se furta a falar das muitas experiências de Lennon com drogas, desde as anfetaminas nas temporadas dos Beatles em Hamburgo, ainda nos primórdios do grupo - quando ela e outras namoradas dos músicos também usaram a droga, para ficar acordadas nas longas noites de shows - até o suposto uso de heroína, quando Lennon já havia se casado com Yoko Ono. Ela lembra que a maconha foi apresentada aos Beatles por Bob Dylan, que achava que o verso "I can't hide" ("Não consigo esconder") de "A hard day's night" era, na verdade, "I get high" ("Eu fico doidão"). Quando Lennon passou para o LSD, ela começou a ficar preocupada, pois não só ele tomava o ácido diariamente como levava dezenas de pessoas estranhas para drogar-se com ele na casa do casal, que já tinha, na época, um filho, o pequeno Julian. Ela culpa as drogas pelo começo da derrocada do casamento. O livro inclui ainda um relato interessante sobre a viagem dos Beatles à Índia - que daria um livro por si só - com Mick Jagger e o beach boy Mike Love, para uma temporada de ensinamentos com o guru Maharishi Mahesh, em 1967.
A essa altura, a artista plástica japonesa Yoko Ono já tinha entrado na vida de Lennon: certa vez, Cynthia chegou de viagem e encontrou os dois sentados no chão, vestindo roupões, olhando-se, numa espécie de ritual. Lennon ainda tentou o velho não-é-nada-disso-que-você-está-pensando, mas logo trocou a velha companheira pela nova, não sem antes pedir que um amigo, Alex, tentasse seduzir Cynthia, para que depois ele pudesse processá-la por adultério. Ele também ameaçou acusá-la de tê-lo traído com o italiano Roberto Bassanini (que depois, de fato, se casaria com ela), mas desistiu.
Se o mundo inteiro já pinta Yoko Ono como uma bruxa, ninguém melhor do que Cynthia para descascar a hoje doce anciã nipônica. Ela ainda tenta mostrar alguma humanidade, ao dizer que teve pena quando Yoko abortou um filho de Lennon e ao contar, brevemente, a luta da rival pela guarda de uma filha, Kyoko. Mas a história do péssimo pai (para Julian) e ex-marido que o beatle foi após o divórcio do casal é sempre referendada pela suposta mente maligna da japonesa. Antes um homem doce e amoroso com a família, teria passado a não fazer a menor questão de ver o filho, além de deixar uma pensão ínfima. É bem verdade que são raras as menções de Cynthia a trabalho. Ela mesma jamais teve uma vida sossegada: casou-se quatro vezes e morou em dezenas de casas, em vários pontos da Inglaterra, na Irlanda, no País de Gales, na França. Hoje, aos 70 anos, vive na Espanha, com o quarto marido.
John começa a se aproximar do filho mais velho

O assassinato de Lennon, outro evento já relatado milhares de vezes, tem um olhar diferente em "John": no livro, Yoko oscila entre a gentileza em relação a Julian (que foi acompanhar a despedida do pai) e a completa frieza pelo filho mais velho do beatle, que tinha 17 anos na época do crime, em 1980. Julian estaria incluído entre os herdeiros de Lennon - ao lado de Yoko, Sean e Kyoko -, mas sua parte da herança só chegou às suas mãos duas décadas depois. Embora tenha ignorado o filho no início do casamento com Yoko - ele chegou a ficar três anos sem um único telefonema, segundo o livro, sempre com o dedo de Yoko no meio da relação -, Lennon estaria se reaproximando de Julian quando foi morto. Isso não o impedia de eventualmente dar seus ataques, como numa vez em que gritou para que o filho parasse de rir, pois sua gargalhada o irritava. Segundo Cynthia, até hoje Julian raramente gargalha. Hoje com 46 anos, ele tem uma carreira musical bissexta, que teve o incentivo do pai no começo. Seu maior sucesso, "Too late for goodbyes" ("Tarde demais para despedidas"), segundo o livro, nada tem a ver com John Lennon. Teria sido composto para uma ex-namorada.
Apesar da tradução ser um tanto precária, "John" é mais um relato interessante sobre o compositor e os Beatles, que deverá interessar, principalmente, à ainda crescente legião de maníacos pelo grupo.

fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/01/01/cynthia-lennon-escreve-em-livro-sua-versao-para-vida-do-beatle-john-915432302.asp

Colaboração:Ana Cláudia Vieira Fragoso (irmã)

5 comentários:

  1. Pelo que se lê no texto,os argumentos são bem verossímeis por ser a autora figura de muita relevância na vida de Lennon e dos Beatles.O autor de John Lennon A Vida foi muito feliz ao ouvir todos os personagens da história.Parabéns pelo blog que é muito gostoso de ler e é sempre atualizado.

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  2. Mais uma vez, parabéns pela postagem!
    Legal!

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  3. valeu João Carlos....obrigado ao elogio!!John não teve uma vida fácil na infância então o resultado viria mais tarde.

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  4. Valeu Dalizio !!assisti hoje o dvd do Elvis ao vivo em 1977 da CBS.

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  5. O livro é muito bom.
    Li em inglês e a versão em português, achei a tradução fidelíssima.
    Recomendo.
    Abs.

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