Morreu ontem à noite aos 70 anos,a brasileira Lizzie Bravo,que gravou com os Beatles a faixa "Across The Universe" em fevereiro de 1968.
Lizzie não resistiu as complicações de uma cirurgia cardíaca e morreu em sua casa.
A carioca fez história de maneira quase acidental ao participar de uma gravação dos Beatles no legendário estúdio de Abbey Road, em Londres. Ela e a britânica Gayleen Pease fizeram vocais de apoio em Across The Universe, balada composta por John Lennon. Uma história devidamente registrada em seus diários de adolescente, que ela transformou no livro Do Rio a Abbey Road.
E a participação ocorreu de forma inusitada: naquele 4 de fevereiro de 1968, Lizzie, então com 16 anos, cumpria rigorosamente sua rotina de fã devota dos Beatles, montando guarda perto da portaria do estúdio em Abbey Road. Assim como fazia todos os dias desde que tinha chegado a Londres, em fevereiro de 1967, após convencer os pais a bancar uma viagem para Londres como presente pelo aniversário de 15 anos.
"Paul apareceu na porta do estúdio e perguntou 'Quem aí de vocês consegue segurar uma nota aguda?'. Eu levantei a mão na hora, porque tinha sido soprano no coral do colégio. Nem pensei no motivo da pergunta", diz a brasileira, em entrevista à BBC Brasil.
Lizzie logo descobriria: ao entrar no estúdio 2, usado pelos Beatles desde suas primeiras gravações para a EMI, em 1963, ela e Pease encontraram os Beatles em meio a uma sessão de gravação.
"John e Paul explicaram que precisavam dos vocais de apoio, ensinaram para a gente o que queriam. Foram bem gentis comigo e Gaylee", lembra a carioca.
"Paul até brincou comigo, pedindo para que eu cantasse em 'brasileiro'. Naquela época, em Londres, você vir do Brasil era como ser um E.T."
Na época, os Beatles já viviam tensões internas fortes, ao ponto do baterista Ringo Starr, meses depois, abandonar as gravações do Álbum Branco após uma briga com McCartney. Mas Lizzie tem recordações de uma sessão bem diferente.
"O clima no estúdio era tranquilo e os quatro estavam de bom humor, fazendo piadas e tudo. Foi tudo muito surreal e eu acabei cantando no mesmo microfone do John, que foi o Beatle de quem sempre gostei mais", conta Lizzie
Foram duas horas de gravação e, segundo Lizzie, "vários" takes foram feitos, o que obrigou as meninas a repetir à exaustão a frase "Nothing is gonna change my world" (nada vai mudar o meu mundo, em inglês), cantada de forma bem aguda. No final, Lizzie e Pease simplesmente deixaram o estúdio. Lizzie voltou para seus "posto" na porta. Pease foi para casa.
"A gente não tinha a menor noção do que acabara de acontecer. Éramos duas meninas, duas fãs. Não ficamos amigas dos Beatles. Costumo brincar que nenhum amigo me deixaria esperando por eles na neve. E, no dia da gravação, ficamos na porta do estúdio até duas da manhã", diz Lizzie.
Lizzie morou em Londres até outubro de 1969, religiosamente montando guarda todos os dias em Abbey Road.
"Trabalhava como babá e empregada, com pouca grana. Fiquei com saudades de casa", lembrou ela
"Os Beatles estavam para se separar, já nem vinham todos os dias para o estúdio. E nem vinham juntos. Estava um pouco cansada daquela vida".
Across The Universe foi lançada em quatro versões diferentes, em apenas uma há o vocal de Lizzie Bravo e Pease. Mas foi esta versão que acabou sendo escolhida pela Nasa em fevereiro de 2008 para a transmissão de uma mensagem enviada na direção da estrela Polaris, localizada a 431 anos-luz da Terra, para tentar contato com extraterrestres.
"Foi algo extremamente especial para mim que justamente a versão de que participei tenha sido escolhida. Até porque pouquíssimas pessoas tiveram a chance de sequer estar com os Beatles na mesma sala, o que dirá cantar com eles pelo espaço", brinca.
A versão gravada por Lizzie Bravo está no álbum Past Masters Volume 2
source: BBC Brasil e BBC UK
Pelas minhas contas, com o lançamento próximo da edição Super Deluxe do "Let It Be", serão 6 (seis) as versões OFICIAIS de "Across the Universe".
ResponderExcluirBom saber obrigado Claudio Sales
Excluir